Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Transtorno bipolar e esquizofrenia são doenças muito confundidas


Existem diversos tipos de transtornos mentais, geralmente caracterizados por combinações de sintomas diferentes. No entanto, alguns podem se manifestar de forma semelhante. Entre os transtornos, podemos citar a depressão, o transtorno bipolar, a demência e a esquizofrenia, entre outros, que, somados, afetam cerca de 1 bilhão de pessoas, informa a Organização Mundial da Saúde (OMS).





O transtorno bipolar e a esquizofrenia, que levam muitos pacientes para a internação e para residências terapêuticas, são doenças conhecidas, mas muito confundidas. “Agitação, desorganização, sintomas psicóticos, desânimo e inadequação podem aparecer em ambas, especialmente em momentos de crise”, comenta o psiquiatra Ariel Lipman, diretor da Sig Residência Terapêutica

Os dois transtornos podem ser graves e afetar o pensamento nos períodos de agudização. Às vezes, a doença pode ser indistinguível no primeiro momento, necessitando de mais tempo de acompanhamento para se fechar o diagnóstico, que pode nem ser fechado. Ou até mesmo ser modificado ao longo do acompanhamento médico.

“Há também um diagnóstico em que as doenças se misturam, o transtorno esquizoafetivo. Teoria aceita entre alguns psiquiatras aponta que ambas seriam a mesma doença, porém, quando falamos da apresentação clássica dos transtornos, elas possuem diferenças”, diz o especialista. De acordo com ele, no caso do transtorno bipolar, o paciente pode ficar quase completamente assintomático.

O transtorno bipolar tem três fases: depressão, euforia e estabilidade, chamada eutimia. “O objetivo do tratamento é prolongar ao máximo a eutimia e reduzir as crises, seja de euforia ou de depressão. Já na esquizofrenia, a fase da estabilidade costuma não ser isenta de sintomas, com comprometimento maior, desinteresse, embotamento afetivo e perdas funcionais mais pronunciadas”, comenta.





“Na verdade, a semelhança entre as doenças aparece em evoluções mais graves do transtorno bipolar, que pode se assemelhar à esquizofrenia. No período das crises, porém, costuma ser mais fácil fazer a diferenciação” completa.

De acordo com o doutor Lipman, ao falarmos de transtornos mentais, estamos falando sobre doenças que não têm exame específico para diagnóstico. Por isso, o relato do paciente é importante, assim como a entrevista com os familiares.

“Como essas e outras doenças têm sintomas muito parecidos, cada relato, cada informação vinda do paciente é extremamente importante para fechar um diagnóstico certeiro e, assim, realizar o tratamento correto”, orienta.





Nos dois casos, o emprego de medicação psicotrópica se mostra fundamental. Na esquizofrenia, há o uso de antipsicóticos; no transtorno bipolar, de estabilizadores de humor.

“Em ambos os casos, podem ser necessárias outras medicações, como antipsicóticos e antidepressivos no transtorno bipolar; ou antidepressivos e benzodiazepínicos, na esquizofrenia”, explica.

Psicoterapia e hospital-dia também são úteis e devem ser procedimentos avaliados caso a caso. “Para as duas doenças, os tratamentos são contínuos e têm como objetivo a reversão de sintomas, além do alargamento dos períodos intercrises. Ambas são crônicas, ou seja, durarão por toda a vida”, observa.

De acordo com o profissional, estes dois transtornos são os que mais levam pacientes para a residência terapêutica, o lar para pessoas com doenças mentais crônicas.

Como em muitos casos elas precisam de cuidados intensos, dos quais nem sempre familiares conseguem dar conta, um lugar apropriado pode fazer toda a diferença, gerando melhor qualidade de vida para o paciente, finaliza Ariel Lipman.