Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Uso inadequado de colírio e quimioterapia podem afetar a visão


A coluna de hoje é de autoria de Ricardo Guimarães, conhecido oftalmologista, diretor técnico do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães. O especialista aborda assuntos que interessam a muitas pessoas:

“Os usuários de lentes de contato devem estar cientes dos riscos de infecção ocular, incluindo a infecção por pseudomonas, bactéria que pode levar à perda da visão. Estudos descobriram que o uso de certos colírios para os olhos pode, realmente, aumentar o risco de infecção por pseudomonas.





A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que analisaram amostras de colírios prescritos para pacientes com infecções oculares. Eles descobriram que muitos dos colírios continham pseudomonas e que a bactéria era capaz de se espalhar de pessoa para pessoa, através do uso compartilhado de colírios.

A infecção por pseudomonas é rara e pode levar à perda da visão, se não for tratada. Por isso, é importante os usuários de lentes de contato tomarem medidas para evitar a contaminação.

Seguem algumas dicas para ajudar a prevenir infecções por lentes de contato: lave as mãos antes de manusear as lentes de contato ou colírios para os olhos; não compartilhe suas lentes de contato com outras pessoas; use apenas colírios prescritos pelo oftalmologista; não toque o conta-gotas do colírio nos olhos ou em qualquer outra superfície; descarte os colírios após o prazo de validade ou após o uso prolongado.





Usuários de lentes de contato devem tomar medidas para proteger os olhos. Se você notar vermelhidão, dor ou secreção nos olhos, consulte imediatamente um oftalmologista.

Os estudos são exemplo do avanço da ciência e da tecnologia no campo da oftalmologia, permitindo descobertas que podem melhorar a saúde ocular. É importante os pacientes estarem informados sobre esses avanços e tomarem medidas para proteger a visão. 

Utilizamos como fonte de consulta o artigo 'Deadly bacteria in eyedrops may spread from person to person/ Scientific American', de 21/4/23.”

O doutor Ricardo também aborda o impacto da quimioterapia sobre a visão:

“A quimioterapia sistêmica é uma forma comum de tratamento para o câncer. No entanto, como muitos medicamentos de quimioterapia são tóxicos para todas as células em crescimento, incluindo as células saudáveis do corpo, o tratamento pode ter efeitos colaterais indesejados, inclusive sobre os olhos e a visão. A situação ocorre porque os olhos são uma estrutura que pertence ao sistema nervoso central (SNC), na realidade, uma extensão do SNC e, portanto, altamente sensíveis a quaisquer drogas.

Os olhos possuem barreiras específicas para proteger o SNC de substâncias tóxicas ou patógenos que possam invadir o organismo. No entanto, essas barreiras também podem dificultar a passagem de medicamentos de quimioterapia, tornando os olhos um alvo potencial para efeitos colaterais indesejados, como catarata, uveíte, glaucoma, neurite óptica e turvação da visão.





A catarata é uma condição na qual a lente natural do olho fica opaca, resultando em visão turva ou embaçada. A uveíte é uma inflamação na camada média do olho, que pode causar dor, vermelhidão e turvação da visão. O glaucoma é uma condição em que a pressão intraocular aumenta e pode danificar o nervo óptico, causando perda permanente da visão. A neurite óptica é uma inflamação do nervo óptico que pode causar dor e perda de visão. A turvação da visão pode ser causada por vários fatores, incluindo mudanças na superfície do olho ou no sistema nervoso visual.

Estudo publicado no Journal of Clinical Oncology, em 2019, descobriu que pacientes que receberam quimioterapia sistêmica tinham risco aumentado de desenvolver catarata, em comparação com aqueles que não receberam. Outro estudo, publicado na revista Ophthalmology, em 2018, revelou que a quimioterapia sistêmica elevou o risco de glaucoma em pacientes com câncer de mama.

A quimioterapia sistêmica pode afetar a qualidade das lágrimas e a superfície do olho, resultando em olhos secos e irritados. O problema pode ser tratado com colírios lubrificantes, mas é importante informar ao médico se ocorrer qualquer alteração na visão durante o tratamento.

Oftalmologistas devem estar cientes desses efeitos colaterais e monitorar regularmente a saúde ocular de pacientes que recebem quimioterapia sistêmica. Pacientes devem informar imediatamente o médico sobre quaisquer sintomas oculares durante o tratamento, para que medidas preventivas possam ser tomadas e complicações evitadas.”