A voz é sempre feminina. Ela se apresenta como segurança de movimentação do banco onde temos conta. Delicadamente, pede desculpas pelo incômodo, mas o serviço da agência gostaria de saber se você passou um cheque de tal valor para fulano de tal. Dá o nome do beneficiado, mas completa informando que o banco está em dúvida se a transação é legal, se o fulano tem mesmo o direito de descontar tal valor.
Nesse questionário, sai tudo quanto é informação pessoal. Os desorientados que nunca sabem os cheques que emitiram ou os cartões de crédito que usaram tentam buscar informações para confirmar se a mulher delicada está falando a verdade.
Depois, ela recomenda escrever um comunicado ao banco informando que, como correntista de CPF de número tal, você solicita que se cancelem os tais débitos por não corresponderem à realidade.
Tem mais. A moça da voz macia pede dois cuidados: como há problemas com os cartões, que você corte os dois pelo meio, junte-os ao comunicado que escreveu e envie o envelope ao funcionário do banco que se chamaria, se fosse verdade, Sílvio Luiz de Vasconcelos. Ela promete solicitar muita urgência para o envio de novos cartões.
Como o tempo é curto para escrever a solicitação, fechá-la em um envelope junto com os cartões e enviá-la para o endereço que a voz macia indica, a moça se propõe a fazer um favor: o funcionário do banco vai até seu endereço buscar a tal carta-documento.
Pede que você espere um pouco no telefone, para que ela lhe informe o nome do funcionário. Está concluída a operação, que leva meia hora ao telefone para quem cai na esparrela.
Só na semana passada, recebi duas maracutaias dessas, cada qual em uma tarde. Da primeira vez, informei que stava tudo pronto, que ela poderia mandar buscar meu documento, pois sabia endereço e tudo. Perguntei também se ela aguardaria 20 minutos, tempo necessário pedido por um policial amigo meu para acompanhar tudo numa boa. É claro que não apareceu ninguém.
No dia seguinte, quando recebi o segundo "enredo", avisei à voz feminina que me deixasse em paz. A polícia já sabia de tudo e estava confirmando o telefonema.
Os golpistas não param de tentar esse truque. Ele é muito fácil de colar, caso a pessoa não saiba que o banco não telefona para cliente para confirmar cheque e cartão de crédito.
Outra coisa: o cartão é cortado ao meio, mas o chip permanece intacto e pode ser usado tranquilamente pelos golpistas.
O golpe deve estar dando certo, porque os telefonemas estão cada vez mais constantes. Só eu recebi dois – de vozes diferentes. Um num dia, o outro no dia seguinte...