Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Saudades de um tempo feliz, na telinha da TV Itacolomi


Quando Freddy Chateaubriand veio morar em BH representando o tio, Assis Chateaubriand, no comando dos Associados, ficou muito meu amigo e me convidou para fazer um programa vespertino na TV Itacolomi. É claro que fui um fracasso total, não conseguia falar o que devia. Oduvaldo Cozzi veio à cidade e Freddy pediu a ele que me treinasse. Viu logo que eu não tinha o menor jeito e o programa acabou como começou – sem a menor repercussão.





Esta semana, recebi um artigo de Hamilton Gangana, que trabalhou na Itacolomi, a primeira TV de Belo Horizonte, que vale a pena ser conhecido:

“Uma canetada matou a TV Itacolomi

Quem viveu por estas bandas entre 1955 e 1980 pode bater no peito e afirmar, em alto e bom som, que foi telespectador da TV Itacolomi, a nossa emissora pioneira, muito querida por sua interação com os mineiros, identificação tão forte que mereceria um estudo de especialistas. Há tantos anos fora do ar, a gente ainda sente saudades daquela vinheta na tela e a musiquinha de fundo, nas passagens dos programas: 'TV Itacolomi/ Sempre na liderança/ Canal 4/ Belo Horizonte/ Minas Gerais'.

Com sotaque, jeito e forma de fazer tudo com muito cuidado e respeito às tradições da gente das montanhas, a Itacolomi acertou em tudo o que fez e mostrou ao Brasil como foi capaz de dar ótimos exemplos de talento, criatividade e competência. As novelas, programas de entretenimento, as transmissões esportivas, os programas educativos, infantis, religiosos, musicais e humorísticos de alto nível (…) e o trabalho jornalístico exemplar.

Durante algum tempo, TV reinou sozinha, era a única emissora televisiva em Minas, até chegar uma concorrente forte, que levou muito tempo para se firma, por causa da absoluta fidelidade dos telespectadores à Itacolomi.





Quem não se lembra do 'Grande Teatro Lourdes', 'Garrafa do diabo', 'O céu é o limite', 'Agarre o que puder', 'Boliche Ingleza Levy', 'Programa da mulher', 'Cidade contra cidade', 'Brasa Quatro', 'Bola na área', 'Show Ingleza Levy', 'Repórter Esso', 'Dirceu Pereira show', 'Itacolomi é das crianças', 'Esta noite se improvisa', 'Programa Sérgio Bittencourt', 'O vigilante rodoviário'. E ainda o personagem humorístico sacado pelo ator sete-lagoano Mauro Gonçalves (o Zacarias), na década de 1960, o bordão “Fala Caticó!” (...) A cobertura de eventos populares em BH e no interior mineiro.

Havia a conexão com a TV Tupi, que fornecia as atrações Flávio Cavalcanti, Jota Silvestre, Moacyr Franco, Hebe Camargo, Chacrinha, Lolita Rodrigues e o impagável humorista, ator e cineasta Amácio Mazzaropi.

Há de se louvar o papel importante da Itacolomi com a abertura de inúmeras fontes de trabalho artístico, bem como a formação de profissionais qualificados em artes, jornalismo, música, teatro, cenografia, produção artística, imagens, som, luz.





Em 18 de julho de 1980, junto da TV Tupi de São Paulo e da Tupi do Rio de Janeiro, além da Rádio Clube de Pernambuco – veículos pertencentes aos Associados, grupo criado pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand –, a TV Itacolomi foi abruptamente retirada do ar pelo governo militar de 1964, sem maiores explicações. Foi um ato político, que prejudicou e entristeceu toda Minas Gerais.

Na época da cassação, a TV Itacolomi era comandada por José de Oliveira Vaz, diretor-geral; Clóvis Prates, diretor artístico; Sérgio Prates, editor de jornalismo; Helio Amoni, diretor financeiro; diretor comercial, Talardo José dos Santos; diretor técnico, Adauto Machado; gerente de programação, Wilson Carneiro. O engenheiro Victor Purri Neto instalou a engrenagem importada da Itacolomi, com equipamentos RCA e o apoio da competente equipe formada inteiramente por gente da casa.

Um fato curioso, que exigiu muita habilidade da direção da Itacolomi, entrou para o anedotário do futebol mineiro: a FMF proibiu a TV de transmitir jogos de futebol, alegando que as transmissões prejudicavam a federação e os clubes, porque tiravam torcedores dos campos, fazendo cair as arrecadações.





Diante da impossibilidade de entrar em campo com as câmaras e os profissionais, a Itacolomi transmitiu os jogos do Independência com equipamentos e pessoal instalados em cima de lajes das casas no entorno do estádio, conseguindo ótimos resultados.

O comercial da Cobertores Parahyba era aguardado por crianças, exatamente às 21h, com carneirinhos dando pulinhos em direção ao descanso, enquanto uma voz suave entoava a canção de ninar: 'Tá na hora de dormir/ Não espere mamãe mandar/ Um bom sono pra você/ E um alegre despertar'.

Já os marmanjos ouviam a voz grave do cantor Dorival Caymmi, no final das transmissões, por volta de meia-noite, uma da manhã: 'Boi, boi, boi/ Boi da cara preta/ Pegue esse menino/ Que tem medo de careta'. Na tela cheia, a logomarca e encerramento: BOA NOITE!”