Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Na Índia, é tempo de colher jasmim branco, a essência mais cara do mundo


Há anos uso um único perfume: Opium, de Saint Laurent. A razão é mais do que sentimental. Meu marido estava indo para a Europa numa viagem profissional e recebeu, no avião, amostra do perfume que estava sendo lançado em Paris. Gostou tanto que me trouxe um vidro, que usei desde então.





Vale lembrar o gesto, raro, nesta época do ano em que o ar é impregnado por aromas embriagantes quando hábeis trabalhadoras no Sul da Índia arrancam os botões de jasmim branco ainda frescos, que logo serão processados para extrair a exótica essência utilizada em perfumes de todo o mundo.

O jasmim exala seu perfume apenas quando floresce à noite, por isso é fundamental que os botões sejam selecionados antes da floração.

“Sabemos quando coletá-los”, conta um dos coletores, Malarkodi, à agência de notícias AFP. Refinadas, expressão de delicadeza e sensualidade, as flores de jasmim são utilizadas há milênios na Índia para homenagear os deuses.

Na antiga cidade de Madurai, a onipresente flor atrai os principais perfumistas. Seu aroma – um dos mais suaves do mundo, segundo especialistas – é encontrado nos frascos de J'adore, da Dior, e de Mon Guerlain, da Guerlain.





É também uma das essências mais caras do planeta, informa Raja Palaniswamy, diretor da Jasmine Concrete, que processa grandes quantidades de flores frescas para obter preciosas gotas da essência. Trabalhadoras na coleta ganham cerca de US$ 1,50 por dia (R$ 7,40) por 4kg a 5kg colhidos. São cerca de
4 mil botões por quilo.

Uma vez colhidos, os botões são rapidamente enviados ao mercado e vendidos por 200 a 2 mil rupias/kg (de US$ 2,4 a US$ 24, ou seja, de R$ 11,95 a R$ 119).

O jasmim de Madurai, variedade asiática cujo nome científico é Jasmim sambac, “é exótico, é sexy, é agradável, é vivo”, afirma Thierry Wasser, perfumista “nariz” da francesa Guerlain. De acordo com ele, a fragrância “tem suavidade e algo floral que é inalterável”.

Além da Guerlain, Raja Palaniswamy fornece jasmins para as marcas Bulgari, Dior e Lush.

Em Madurai, a flor branca e brilhante está em todas as casas, nos cabelos e no imenso templo do século 14 dedicado à deusa hindu Minakshi, protetora da cidade. Todas as noites, fiéis fazem oferendas a ela, supondo que se encontrará com o marido, Shiva, com colares de perfumadas flores, na grande cerimônia que simboliza a união.





“Esta flor é a expressão do amor”, diz o perfumista Thierry Wasser. Porém, a extração do óleo essencial requer um longo processo. No campo localizado periferia de Madurai, mulheres separam meticulosamente os ramos, em busca do broto perfeito. Durante a temporada de colheita, a fábrica funciona 24 horas por dia.

Desde que começa a florescer, o jasmim emana seu perfume. Tarde da noite, quando o aroma toma conta do ar, as coletoras colocam as mudas nos extratores. Depois, o jasmim é submerso no solvente que absorve as moléculas olfativas, antes de ser retirado e fervido para formar a pasta chamada “concreto”.

O “concreto” é tratado com álcool para se eliminar totalmente a cera e se obter o líquido chamado “absoluto”, que entrará na composição dos perfumes.

Cerca de 700 kg de flores de jasmim são necessários para produzir apenas 1 litro de óleo essencial, vendido por cerca de US$ 4,2 mil, informa Raja Palaniswamy.