(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas ANNA MARINA

O perigo do 'remédio para emagrecer'

Cuidado com ele! De origem desconhecida, produto é vendido na internet sem receita e propagandeado como solução rápida para perder peso


11/10/2023 04:00 - atualizado 10/10/2023 22:12
699

Ilustração mostra caixa de remédio dentro de armadilha
(foto: Pacifico/CB/D.A Press )

Já nem sei há quantos anos procuro Arquimedes Nascentes para acalmar minhas dúvidas a respeito da saúde. Ele é um craque reconhecido e não brinca em serviço, dá logo o recado do que é preciso. Na consulta, além de fornecer o tradicional pedido para exame de sangue, ele me pediu informações fornecidas por Walter Caixeta Braga, que trata o meu diabetes, e Francisco Cardoso, que cuida da minha cuca e dos desesperos.

Arquimedes me levou à balança e quase caí para trás: eu, que nunca passei dos 50 e poucos quilos, estou passando dos 60kg. Notícia pior impossível. Já tinha desconfiado, tanto que pedi a um dos médicos a que fui ultimamente que me receitasse dessas injeções que emagrecem e acabam com a barriga, pois conhecidos recorrem a ela.

O médico negou, disse que os efeitos colaterais podem ser complicados e ficamos nisso. É claro que me recomendou emagrecimento. Estou correndo atrás.

Com o crescimento da oferta de produtos e tratamentos para perda de peso, especialistas destacam a importância de diferenciar o “remédio para emagrecer” do “medicamento para tratamento da obesidade”.

Muitos “remédios para emagrecer” são produtos de origem desconhecida, vendidos na internet sem receita e acompanhamento médico, apontados como solução rápida para perda de peso. Já os medicamentos para tratamento da obesidade são receitados por especialistas, passaram por anos de estudos com milhares de pacientes, têm autorização da Anvisa e exigem acompanhamento do especialista para resultados eficazes ao longo de meses.

Essa discussão tem a ver com o novo posicionamento da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) sobre conceitos no tratamento da obesidade.

O endocrinologista André Vianna (não é meu parente), membro da Sbem e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes no Paraná, explica que medicamentos fazem parte do tratamento da obesidade, que é doença crônica, e não significam solução rápida e pontual para emagrecer.

“Quando você fala em tratamento para emagrecer, a pessoa acha que emagreceu e acabou o tratamento, porque conseguiu o objetivo dela. Hoje, o que mais vemos são pessoas que não têm obesidade comprando medicamentos destinados a tratamento, como a Semaglutida (injeção cara), em busca da solução rápida para perder alguns quilos. Isso pode trazer muitos riscos para a saúde, além da recidiva de peso”, explica Vianna.

O tratamento da obesidade, que é uma doença crônica, ocorre a longo prazo e exige mudanças no estilo de vida: hábitos alimentares saudáveis, prática regular de atividade física e uso de medicamentos para ajudar no controle do peso. Quando esses mecanismos não são suficientes, o paciente pode receber a indicação de cirurgia bariátrica.

Essa recomendação é dada a pessoas com níveis mais severos de obesidade ou em casos de obesidade associada a outras doenças, como pressão alta, diabetes, apneia do sono, problemas articulares e colesterol elevado.

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica no Paraná, José Alfredo Sadowski, enfatiza a importância do procedimento para tratar casos mais severos de obesidade, sobretudo obesidade mórbida. Mas alerta: a cirurgia não é a solução definitiva, pois se trata de doença incurável.

Se a cirurgia for acompanhada da mudança de hábitos, reeducação alimentar e do acompanhamento de equipe multidisciplinar (médico, nutricionista, profissional de saúde mental e educador físico), a chance de sucesso em longo prazo aumenta substancialmente, diz Sadowski.

Atualmente, no Brasil, os critérios de indicação para cirurgia bariátrica são índice de massa corporal acima de 40kg/m2 ou índice de massa corporal acima de 35kg/m2 na presença de doenças associadas à obesidade (pressão alta, diabetes tipo 2, apneia do sono, problemas articulares ocasionados por excesso de peso, gordura no fígado e elevados níveis de colesterol).

Outro fator preocupante é o uso de medicamentos manipulados, como chás, shakes e dietas milagrosas. Comprar medicamentos manipulados para tratamento de obesidade ou com o objetivo de emagrecer pode trazer riscos à saúde.

A médica hepatologista Claudia Ivantes alerta: “Fitoterápicos não apresentam controle sanitário rigoroso e podem conter elementos não descritos na bula. Nem tudo que é dito 'natural' é saudável. Esses produtos estão no mercado como suplementos alimentares e não passam por regulamentação da Anvisa. Não há vigilância e controle para saber o que realmente os compõe. A maioria das substâncias são ou devem ser metabolizadas pelo fígado, por isso esse órgão é bastante suscetível a lesões.”

Estudo publicado na revista científica Clinical Gastroenterology and Hepatology aponta que cerca de 8% dos casos de lesão no fígado foram atribuídos a fitoterápicos e suplementos dietéticos. Desses pacientes, cerca de 83% apresentaram lesão hepatocelular, 66%, icterícia (cor amarelada da pele e dos olhos), e 17% desenvolveram insuficiência hepática aguda.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)