Estamos diante de uma nova era na luta contra a obesidade, com surgimento de novos medicamentos para perda de peso, em um grande avanço da ciência, mas, antes que o otimismo ultrapasse a realidade, será que a medicalização da obesidade pode encerrar definitivamente a epidemia de obesidade no mundo?
Leia Mais
Nutricionista esclarece mitos e verdades sobre hábitos alimentaresMédico explica a evolução nas técnicas da rinoplastiaEstigmas em relação a transtornos mentais dificultam busca por tratamentoCâncer de mama: pesquisa revela disparidades no diagnóstico e prevençãoJeanswear transcende tendências passageiras ao aliar conforto e elegânciaConheça os sintomas e os tratamentos da endometrioseA médica explica que genética, alimentos ultraprocessados, distorção de porções, bebidas açucaradas, tempo de tela, dependência alimentar, microbiota intestinal, cultura de dieta, estigma de peso, insegurança alimentar, enfim, muita coisa impacta na atual epidemia de obesidade. “Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo têm obesidade e muitas outras estão acima do peso”, diz.
A obesidade, lucrativa para a indústria de alimentos, alvo de charlatanismo constante, e erroneamente atribuída à falta de força de vontade, tem um histórico recente como doença. Apenas em 2013 a American Medical Association decidiu classificá-la como doença.
Segundo Deborah, o estudo da obesidade avançou muito nos últimos anos. “No entanto, a medicina teve pouco a oferecer até agora. De dinitrofenol (catarata e hipertermia fatal) e fenfluramina-fentermina (doença cardíaca valvular) a orlistate (vazamento fecal), medicamentos promissores para perda de peso foram retirados ou evitados devido a efeitos adversos. A cirurgia bariátrica tornou-se rotina, mas não é benigna nem universalmente eficaz”, afirma.
A World Obesity Foundation previu neste ano que o impacto econômico global do sobrepeso e da obesidade chegará a US$ 4,32 trilhões até 2035 – se as tendências atuais continuarem. “O custo pessoal também é enorme. Ao contrário de muitas doenças crônicas, a obesidade é visível. As pessoas tentam de tudo para perder peso – dietas, programas de perda de peso e exercícios, psicoterapia, aparelhos e cirurgias. O sentimento de falhar gera maior estresse, ansiedade e problemas de saúde mental. A medicina também teve de olhar com maior empatia para esse paciente que é discriminado e sofre com a culpa pessoal, muitas vezes atribuída pela sociedade”, comenta a endocrinologista.
Mas agora chegou o momento da medicalização da obesidade. “Os neurocientistas mapearam os circuitos cerebrais de fome e saciedade de neurônios geneticamente definidos cuja ativação pode promover ou inibir a alimentação em animais. Desvendar a biologia do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) permitiu o desenvolvimento de agonistas do receptor de GLP-1, inicialmente para tratar o diabetes tipo 2, mas agora revolucionando o tratamento da obesidade. Ao retardar o esvaziamento gástrico e promover e prolongar os sinais de saciedade do intestino ao cérebro, essas drogas provocam uma perda de peso impressionante”, diz a médica. “O apetite diminui, a saciedade aumenta e os quilos aparentemente desaparecem.”
Apesar de o investimento inicial na medicação ser alto, a longo prazo, com a perda de peso, há redução das medicações para doenças causadas pela obesidade, segundo a médica. “Com isso, vemos a economia a longo prazo. Podemos reduzir medicações para hipertensão, colesterol, antidepressivo, entre outros.”
A medicação para obesidade é para a vida toda. “O efeito rebote acontece pelo fato de a doença ser crônica. Se parar a medicação, o peso é recuperado”, explica. Ela afirma que “os esforços de prevenção que tratam de todos os fatores que contribuem para a obesidade devem ser reforçados, e não abandonados, para garantir que a próxima geração não precise de medicação vitalícia para manter a saúde metabólica. O estilo de vida do paciente também precisa ser alterado, com a introdução de bons hábitos de sono, atividade física e alimentação para que o resultado se estenda”.
“Precisamos enfatizar muito o acompanhando médico e sem automedicação, pois esse é o maior perigo. Novos análogos ainda mais potentes serão lançados em 2024 no Brasil e já são comercializados em 2023 na Europa e nos Estados Unidos. Essas medicações novas têm o benefício de reduzir gordura visceral e com isso diminuir o risco de infarto e AVC, que são as principais causas de morte em quem tem sobrepeso e obesidade”, diz a médica.