“Sou professor universitário de filosofia, casado há 12 anos. Tive uma depressão há dois anos e tenho medo de que ela volte. Minha mulher diz que vejo sempre o lado ruim das coisas. O que leva uma pessoa ao pessimismo?” - De Belo Horizonte
O mundo não está e nunca estará pronto. E, à cada questão respondida, sob qualquer aspecto, inúmeras outras se abrem. Tomemos por exemplo o transporte na nossa vida. Do lombo do cavalo ao avião, passando pela carroça, trem e automóvel, muitas e enormes melhorias foram alcançadas. Todas elas aumentando gradativamente o conforto, a rapidez, as possibilidades de se ir mais longe.
A tecnologia e a ciência avançam sem fim, dando respostas às nossas dificuldades e criando outras. Isso se repete em todas as dimensões da nossa existência. Por mais que nos incomode, sempre teremos problemas. Viver é resolver problemas emocionais, técnicos, financeiros, religiosos e de relacionamento. O mundo e o homem são incompletos por natureza e isso significa, a um só tempo, desafios e possibilidades.
É na incompletude das coisas e das pessoas que podemos criar, reinventar, crescer e progredir.
Toda ordem é uma organização temporária do caos. Toda harmonia se faz no gerenciamento e na conciliação dos opostos. Já dizia o filósofo Heráclito.
Diante de uma roseira florida, ele se fixa no esterco que a rodeia e reclama do seu mau cheiro. Imagine alguém que ficasse insatisfeito e reclamasse todas as vezes que visse as cores das coisas. O pessimista sofre e se queixa do erro, da queda, da doença, dos negativos. Essas coisas colorem o mundo, sobretudo, de verde. Verde esperança. A esperança é a melhoria “possível” do ruim. A luz é a possibilidade esperançosa das trevas. O pessimista não acredita nas pessoas.
Depressão porque ele se culpa, se acusa, tem pena de si mesmo ao se perceber feito de barro. Ele não se perdoa pelas suas fraquezas. Eu “deveria”. Você “deveria”. O mundo “deveria”. Acomodação porque, na estupidez da sua lógica moralista, nega o mundo que é, infelizmente, e não tem jeito de não ser do modo como é. O mundo é mau, está cada vez pior, é muito violento, rumina o pessimista.
Duas atitudes podem informar nossa atitude diante da realidade negativa: situar-se nas lamentações, no choro, na tristeza, na postura de vítima, ou se situar na resolução dos problemas, na construção da realidade, na participação ativa da melhoria contínua. As pessoas se dividem em dois blocos: as que fazem e as que criticam. As que agem e as que assistem à vida, sofrendo. As que amam e lutam e as que invejam e sucumbem.
O pessimismo cria uma linha paralisante entre mim e as condições humanas. Nosso destino, ainda que não queiramos, é fazer do barro um vaso, da perda um ganho, da morte um existir intenso. Qualidade é divertir-se com o quebra-cabeça diário dos nossos problemas.
A vida não é pra ser analisada ou decifrada; é para ser vivida e transformada. A alquimia consiste em transformar o chumbo em ouro. Isso exige paciência e, sobretudo, humildade.
O pessimismo é orgulhoso. Está acima da realidade. É juiz de tudo. Ele pensa a vida e vai-se enclausurando, perdendo contato com o diamante que se esconde atrás do cascalho. Para quem quer ser Deus, é horrível ser humano. Felizmente, em todo pessimista existe, escondida, a sua verdadeira natureza de um ser amoroso, criativo, cheio de luz e energia. Apenas precisa de um “despertar” e de um empurrãozinho para sair da sua zona de conforto, para sair da sua casca ilusória e defensiva. Resta-lhe apenas descobrir que o entusiasmo vem do botar a mão na massa.
Que esse artigo nos ajude a sair do conforto mórbido dos que não querem ver. Uma rosa é uma rosa, com todos os seus espinhos..