
Todo sofrimento psicológico é fruto de um conflito interno. Lados opostos brigando dentro de nós e criando desequilíbrios emocionais. Gostamos de dividir o mundo, as coisas e as pessoas em categorias que se opõem: bom e mau, certo ou errado, vida pessoal ou vida profissional, materialista ou espiritualista. Estamos sempre optando entre uma coisa e outra, o que nos traz muita ansiedade e angústia. A procura da inteireza, da conciliação entre os opostos, da ausência de luta interna é a mesma procura da paz, do amor e da felicidade. Os antigos místicos diziam que a virtude está no meio, indicando que o esforço do homem tem de se concentrar no equilíbrio.
Todo excesso prejudica, seja para um lado ou para outro. Esse dilema proposto de sermos OU materialista OU espiritualista é falso. No caminho do crescimento emocional, cada vez mais teremos de abrir mão dessa partícula alternativa “OU” e de aderir à partícula integrativa “e”. Um exemplo simples, do dia a dia, talvez nos aclare melhor. Quando meus filhos eram crianças, um dia, um deles me perguntou se eu me achava inteligente. Já nessa época, às voltas com a necessidade de aceitar os opostos, eu me lembro de ter respondido: depende da hora. Às vezes me sinto bastante inteligente, às vezes extremamente idiota. E ainda acrescentei: sou também bom e mau, verdadeiro e falso, calmo e nervoso.
Voltando à questão levantada pela leitora. Somos feitos de algumas dualidades. Corpo e alma, razão e emoção, individualidade e vida social. A decorrência disso é que somos seres materialistas e espiritualistas e que devemos conjugar, com igual importância o verbo SER e o verbo TER.
Aspirar aos bens materiais, ao conforto de um bom carro, às promoções profissionais, a passeios pelo mundo é uma forma de testemunharmos o desenvolvimento do nosso lado material e social.
O importante é que esse esforço de ascensão social esteja também ligado ao desenvolvimento de outros valores que dizem a respeito a outras dimensões de vida humana, como o desenvolvimento psicológico, espiritual, do amor, da solidariedade, da alegria etc. A figura do rio talvez seja uma boa metáfora para ilustrar essa unidade dos vários aspectos de vida. As margens são o lado material e a água é o lado espiritual. Um não existe sem o outro. Eles se complementam e se integram.
Por outro lado, a leitora não deixa de ter razão em um aspecto. Nosso sistema social e econômico sempre privilegiou a quantidade em detrimento da qualidade. Isso gerou em nós uma procura excessiva pela posse dos bens materiais, como se isso garantisse necessariamente a felicidade. A raiz de nossos sofrimentos é o apego. E o apego é fruto da mentalidade possessiva, de acumulação e de ganância. É, sobretudo, o medo de perder. Quando agarramos demais surge o pavor de perder aquilo que temos.
O desapego, por outro lado, não é não possuir. É apenas saber que tudo é transitório. E que tudo é para ser usado e não para ser conservado. A nossa relação com o dinheiro determina, em grande parte, a qualidade da nossa vida. A verdadeira prosperidade é o equilíbrio entre a vida material e nosso crescimento interno.
Alcançar esse equilíbrio é nosso grande desafio. Aqui corremos dois perigos: o primeiro é desenvolver a ganância, fazendo com que o dinheiro nos possua e nos escravize, querendo sempre mais e mais e provocando intensos sofrimentos emocionais, através da ansiedade, na medida em que nunca nos satisfazemos e tentamos preencher nossos vazios interiores com as posses materiais.
O outro perigo é, em nome da espiritualidade, esquecer nosso crescimento material, incluindo aqui o cuidado com o corpo, com o desenvolvimento social e profissional, criando também ansiedades e acomodação. A palavra-chave é o equilíbrio. Temos a obrigação de batalhar tanto o sucesso pessoal (paz interior, esperança e harmonia) quanto o sucesso social. O casamento das duas dimensões é que favorece uma vida rica em todos os sentidos.
O que é, porém, equilíbrio? Equilíbrio, em todos os aspectos da nossa vida, é como caminhar numa corda bamba. O segredo para não cair é, ao sentir que está pendendo demais para um lado, fazer força no sentido contrário. Equilíbrio é deixar que os opostos façam as pazes no nosso coração. Todo mundo sabe quando está exagerando. Equilíbrio é olhar, com amor e sem julgar os aspectos aparentemente contraditórios da realidade e saber que, apesar da diversidade, o mundo é um só. Só assim podemos ter paz. A paz de aceitar o mundo tal qual ele é.
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