Jornal Estado de Minas

Coluna

Fragilidade humana


“Sempre fui uma pessoa forte, nunca demonstrei qualquer fraqueza, não deixo que percebam meus sentimentos ruins. Ocorre que, ultimamente, tenho me sentido deprimido e angustiado. Não estou me conhecendo. Gostaria de uma explicação sua.” Rubens, de Ouro Preto

Uma amiga me contou que, há alguns dias, presenciou um fato interessante. Ela e um amigo corriam juntos e ele, com muito esforço, mantinha um ritmo firme e acelerado. Depois de algum tempo, exausto, ele parou e falou para a minha amiga: “Como é difícil fazer parecer fácil”. A característica fundamental da nossa natureza é que somos seres limitados, portadores de forças e fraquezas, facilidades e dificuldades, capacidades e incapacidades. Ensinaram-nos que devemos ser fortes em qualquer circunstância, nunca deixar a peteca cair, sempre dar conta, independentemente das situações.

Isso gerou um esforço sobre-humano de parecer que somos infalíveis, que somos onipotentes.
O que é real, porém, sempre vem à tona. E um dia a casa cai. Os conceitos de força e fraqueza não podem ser entendidos de maneira absoluta. Todas as pessoas são frágeis por natureza. Tudo que é mortal é frágil. Fortes são aqueles que aceitam e administram essa fragilidade. Fracos são os que, não aceitando seus limites, abusam do seu potencial e pagam caro por isso.

A esse comportamento tenho dado o nome de postura do herói.
Bancar o herói na vida é querer ser mais do que se é, é carregar o mundo nas costas, é não saber jogar a toalha de vez em quando, é ser incapaz de dizer: ‘Não dou conta’. É querer ser forte o tempo todo, é esconder os sentimentos negativos, é nunca dar o não, é se matar para parecer fácil o difícil. Todo herói, mais cedo ou mais tarde, se torna vítima. Foi o que ocorreu com o leitor acima. Brincando de ser Deus, fingiu não ser afetado pela realidade e agora estranha a cobrança que sua humanidade lhe faz em forma de angústia e depressão.

Trata-se, inclusive, de uma lei física: a toda ação corresponde uma reação igual e contrária. A todo o excesso corresponde um recesso. A toda tensão excessiva corresponde uma depressão. O fenômeno de estresse está situado nessa estrutura.
E para agravar, o herói, julgando-se maior e superior aos outros, tem muita dificuldade de pedir ajuda. Ele normalmente tem muita facilidade para ajudar as outras pessoas, resolver os problemas dos outros, ensinar, orientar e proteger e tem uma enorme dificuldade de ser ajudado, em aprender, em ser orientado ou ser protegido. Para ele, pedir ajuda é reconhecer uma fraqueza que nele jamais é admitida.

Não existem pessoas fortes e pessoas fracas. Forte é quem lida bem com as quedas, os erros e limites. Fraco é quem nega suas relatividades e quer ser absoluto. Forte é quem enverga mas não quebra, à semelhança daquela plantinha tenra que, durante a tempestade, se curva totalmente no solo e que, após a chuva, volta a seu estado anterior. Fraco é quem quebra, mas não enverga, como aquelas árvores frondosas da floresta amazônica que se caírem, nunca mais se levantam.

A cultura americana, fabricante de super-heróis, foi impiedosa com todos nós, principalmente os homens, incentivando-nos a gastar todas as nossas energias para provar que estamos além de todos os limites: Homem não chora! Prove que você é macho! Mulherzinha... Estamos na vida para aprender a lidar com os fatos positivos e negativos que nos circundam durante toda a nossa trajetória ou para provar pra nós e para os outros que jamais cairemos?

Os americanos costumam classificar as pessoas em “ganhadores” e “perdedores”. Enquanto assim o fazem, se esquecem de uma outra classificação mais em consonância com a realidade humana: pessoas felizes e pessoas infelizes. A vida é como um rio.
Lutar contra a corrente não é sábio. Agarrar-se às margens também não é bom. Deixar-se levar, cooperando ativamente com a corrente e aceitando as dificuldades é o máximo de exercício de flexibilidade e de se chegar ao oceano.

Viver humanamente exige humildade, no verdadeiro sentido etimológico da palavra. Humildade vem da palavra latina “humus” que significa terra, chão. Botar os pés no chão é aceitar que não somos deuses e, por isso mesmo, caímos, perdemos, hesitamos e sofremos. Em compensação, podemos sempre começar de novo. 
 
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