“Quero me separar, mas fico pensando nos meus dois filhos. O que devo fazer? Como lidar com as crianças no caso de separação? Tenho medo
que eles sofram.”
Olinto, de Belo Horizonte
Os pais representam, através da união, da harmonia e do amor mútuo, um ponto de apoio e segurança para o desenvolvimento dos filhos. É natural, portanto, que haja algum tipo de sofrimento para os filhos quando os pais se separam ou mesmo quando ameaçam fazê-lo. Por outro lado, não é sadio e não é bom para ninguém a permanência em relações deterioradas, esgotadas e preenchidas por violências, desentendimentos contínuos, ofensas mútuas. Isso, de qualquer forma, desestabiliza emocionalmente os filhos.
É também um direito de qualquer casal se desentender, brigar e, em casos mais graves, se separar. Saber fazer isso, minimizando a repercussão negativa nos filhos, é uma verdadeira arte e muito importante.
Não é fácil dar uma atenção especial às crianças, num período de muito estresse para os pais, às voltas com seus conflitos internos e vivendo também momentos de insegurança e dor psicológica. Um esforço extra, no entanto, torna-se necessário para despender alguma energia em cuidar dos filhos, durante essa fase.
Alguns aspectos devem ser considerados pelo casal a fim de poupar os filhos e não prejudicá-los emocionalmente com o processo de separação. Os sentimentos de pena e de culpa com relação aos filhos, comuns quando se quer separar, aumentam a insegurança deles. Nesse momento, ao contrário, eles precisam de presença, carinho, compreensão para se adaptarem à separação.
Outro cuidado importante é poupá-los, evitando o uso dos filhos na briga conjugal. Disputá-los como aliados, jogar os filhos contra o parceiro, usar o sofrimento e o medo das crianças para sensibilizar aquele que quer separar, numa tentativa de paralisá-lo, é partir o filho ao meio. Obrigar os filhos a ficarem do lado do pai ou da mãe cria neles um profundo sentimento de angústia e culpa, desestabilizando-os emocionalmente.
O fundamental é o caminho exatamente inverso. Deixar os filhos fora do conflito, para que eles entendam que podem amar o pai e a mãe, e que o vínculo que está se dissolvendo é o de marido e esposa e não o de pai e mãe. Pedir a opinião dos filhos é levá-los para um papel que não é deles.
As resoluções de conflitos no casal, o processo de separação, as brigas durante esse período fazem parte da intimidade do casal e devem ser tratados como tal. Comunicar aos filhos que as coisas não vão bem no relacionamento dos pais é a única coisa que devem saber, até como preparação psicológica para quando ocorrer a separação. Mas é só.
Se o diálogo com os filhos é importante em qualquer momento, durante a crise da separação é vital. Através do diálogo os filhos saberão com antecedência e em primeira mão a decisão da separação. É importante nessa ocasião, reafirmar que eles (os filhos) não têm nenhuma responsabilidade com a decisão que os pais estão tomando e que nada fizeram para que isso ocorresse. Exatamente para evitar o sentimento de culpa, muito comum nas crianças quando os pais se separam.
Ao comunicar o fato aos filhos é também necessário permitir a eles que expressem com clareza e livremente os seus sentimentos, os medos, as inseguranças, a tristeza, a raiva, o choro etc. Reprimir esses sentimentos dolorosos, tentando proteger os filhos da dor, vai retardar depois a elaboração da perda. Essa é a hora de enfatizar o amor e o afeto que eles continuam a ter para com os filhos e que eles não estão sendo abandonados. Essa certeza de que não perderão o amor dos pais é que vai facilitar a adaptação à nova situação.
Acredito ainda que seja durante esse processo a grande oportunidade de ensinar o filho a lidar com o universal fenômeno da perda e da separação. Para dizer-lhes que, apesar de dolorosa, a separação é uma escolha e, portanto, o exercício de autonomia de cada pessoa. Que a perda faz parte da vida e que várias vezes teremos de lidar com ela. Ensinar ainda que o grande objetivo da vida é a felicidade e que quando uma relação está provocando dor e sofrimento ela perdeu o sentido. Feita dessa forma, a separação, ainda que difícil e penosa, trará uma possibilidade de crescimento emocional para todos os envolvidos e será mais uma grande lição para os filhos. Se ensinamos aos filhos o casamento, temos de ensinar-lhes também a separação.