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Estado de Minas

(EM TEMPOS DE CORONA) SOFRIMENTO EMOCIONAL

'Tratar dos nossos sentimentos negativos é fundamental para sermos mais felizes e ter relacionamentos mais significativos'


10/05/2020 04:00

 

“Por que as pessoas sofrem tanto emocionalmente? No atual momento de dor e escuridão, a população está deprimida, com medo e angustiada com a COVID-19.”

 

Terezinha Rayad, de Belo Horizonte 

 

O ser humano é um dos maiores milagres de Deus na natureza. Ponto alto da criação, se assemelha ao seu criador e difere dele pela imperfeição. A humanidade não está acabada e a partir de seus limites pode ter uma melhora contínua e nisso consiste o desenvolvimento do mundo.

 

A compreensão dos vários sistemas que compõem o arcabouço humano no seu funcionamento e na sua relação com o meio ambiente é o caminho para a resposta solicitada. Somos dotados do físico, do racional, do emocional e do religioso.

 

Através do sistema motor, nosso corpo anda, corre, come, trabalha, faz amor etc. Através do sistema intelectual, nós pensamos, raciocinamos, explicamos etc. Através do sistema espiritual, transcendemos, nos unimos a uma Verdade Universal, abraçamos o desconhecido, testemunhamos Deus etc. Através do emocional sentimos o mundo, percebemos com sentimentos a realidade, respondemos emocionalmente a todos os outros estímulos do corpo, do pensamento ou dos fatos.

 

A descoberta do valor emocional é relativamente recente e nosso sistema social nunca deu atenção a esse aspecto tão importante de nossa vi- da. A inteligência humana progrediu muito e muita atenção foi dada a ela, culminando com todo o avanço técnico e tecnológico presente no mun- do. O esforço e recursos despendidos nas pesquisas das doenças físicas criaram um avanço significativo na área da saúde orgânica.

 

Pouca ou quase nenhuma atenção foi dada pelo sistema ao psicológico, principalmente em nosso país. Afora os casos muito graves de distúrbios mentais e que, na visão preconceituosa da sociedade, pode lhe oferecer perigo e incômodo e, assim mesmo muito mal atendidos, as dificuldades emocionais da população não são levadas a sério.

 

Na camada mais pobre o problema é ainda mais grave. Se uma pessoa de melhor condição financeira sofre emocionalmente, apesar de todo o preconceito existente com relação ao tratamento psicológico, ela pode procurar uma terapia. Os mais desfavorecidos não têm a quem re- correr. Até há pouco tempo, e muita gente ainda pensa assim, as dores da alma como a depressão, a solidão, a compulsão pelas drogas, incluindo o alcoolismo, o estresse etc., eram vistas com certo desdém.

 

Os poderes públicos não se preocupam nem nunca se preocuparam com a neurose de cada um de nós. Os postos de saúde não têm, em geral, um psicólogo para escutar aquele que perdeu um filho, que teve uma separação conjugal traumática ou que viveu alguma crise grave na sua vida. As escolas não educam emocionalmente as crianças e os adolescentes por meio de vivências e trabalhos em relações humanas. Nossos relacionamentos são muitas vezes dolorosos, porque não fomos tratados nos nossos “ciúmes”, invejas, competições, nossos ódios, nossas vinganças. Nós somos na vida aquilo que sentimos.

 

Tratar dos nossos sentimentos  negativos é fundamental para sermos mais felizes e ter relacionamentos mais significativos. A ausência de ética, a corrupção deslavada, o problema das drogas, a desvalorização da mulher e a degradação do meio ambiente são frutos de pessoas adoecidas, com pouco ou nenhum amor no coração.

 

No final das contas, todos os nossos problemas, qualquer que seja a sua natureza, vão desaguar no campo emocional. A perda do emprego, a falta de dinheiro, por exemplo, são vividos com angústia, tristeza, culpa ou medo. E quando sofremos na emoção queremos ser escutados. Alguém tem de acolher nossas do- res. O poder público tem a obrigação de incluir na saúde o tratamento emocional.

 

Independentemente do poder público, não podemos negar nosso lado emocional. Aceitar nossos medos,  nossa tristeza, nossa angústia neste momento de sofrimento planetário, é fundamental.

 

Negar nossos sentimentos e a gravidade da situação aumenta nossa dor. Não é hora de bancarmos heróis ou vítimas. É hora de fazer o que está ao nosso alcance e, sobretudo, saber que a noite só escurece até a meia- noite. Depois começa a clarear.

 

 

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