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ANSIEDADE E FOME

Trabalhar sistematicamente a ansiedade é fundamental para acalmar nosso corpo nas suas impulsividades e, no caso, a impulsividade para a comida


11/10/2020 04:00 - atualizado 10/10/2020 15:35




“Quanto mais a mídia impõe 
padrões de beleza, pior eu fico. 
Gosto de comer, mas por mais 
que eu malhe não consigo 
emagrecer. Gostaria de saber 
o que fazer. Vou me casar daqui a três meses e quanto mais 
ansiedade pior.”

Vivian Lima, de Belo Horizonte

Há uma relação direta na forma como nos alimentamos e nossos estados emocionais. O excesso na comida deixou de ser visto apenas como o pecado capital da gula e passou a ser considerado, na maioria dos casos, como problema psicológico.

Submetidos a intensas pressões, tanto externas quanto internas, vivemos um grau excessivo de angústias, ansiedades e depressões. E um dos mecanismos que aprendemos a adotar para aplacar esses sentimentos é recorrer à comida.

Dessa forma, os sentimentos influem decisivamente na forma como nos alimentamos. Por que buscamos na comida auxílio para nossas dores emocionais?

Aprendemos isso desde a infância. O recém-nascido experimenta um imenso prazer ao ser amamentado. E esse prazer é duplo: sacia a fome e oferece aconchego corporal. Esses dois prazeres acalmam a criança. Tanto que é comum a mãe dar peito ao neném apenas para acalmá-lo.

Aí está a vinculação primária entre comida e afeto. Esse vinculo, às vezes, permanece durante a vida e o alimento passa a ser uma forma de acalmar a ansiedade, a angústia e a depressão, sentimentos que demonstram a ausência de afeto e de prazer.

Essa ligação entre comida e fuga da dor é reforçada mais tarde por nós mesmos e por outras pessoas. Quantas vezes as mães oferecem comida aos filhos, mesmo maiores, quando eles estão tristes? Em situações-limite, como por exemplo na morte de alguém, é comum a preocupação de que a pessoa que sofreu a perda se alimente.

Em um velório recente da mãe de uma amiga minha, observei que várias pessoas falavam insistentemente que ela precisava comer alguma coisa. O hábito de aplacar as dores emocionais com a comida existe também na relação com as drogas, com o sono, com o sexo, ou com qualquer coisa prazerosa.

Entre todos os prazeres, porém, a comida é o mais fácil de se obter e o menos condenado socialmente. Daí o crescimento mundial na compulsão para a comida. Estabelecido esse sistema compensatório, a dieta apenas não resolve.

Com ela atacaríamos somente o sintoma de aquisição de peso, mas a causa continua intocável. Por isso a dificuldade que as pessoas têm de seguir um regime alimentar ou voltar a engordar algum tempo depois de uma dieta bem-sucedida.

Um tratamento psicológico para resolver a ansiedade, a angústia ou a depressão torna-se, nesse caso, um instrumento fundamental.

No caso específico da Vivian, um psicólogo iria ajudá-la a elaborar o fator desencadeante da sua tensão, que é normal perante o novo (casório). Apesar de haver um fator fisiológico que leva as pessoas ao consumo de determinados alimentos como, por exemplo, o chocolate, que ajuda no equilíbrio da serotonina, a questão fundamental da compulsão para a comida está na ansiedade.

Hoje, qualquer tratamento sério da obesidade inclui ansiolíticos e/ou antidepressivos. A ansiedade se tornou um estilo de vida para a maioria de nós.

As pressões internas aprendidas e acumuladas durante nossa vida nos fizeram perder contato com nossa própria natureza. Nossos ritmos já não são ditados pela naturalidade. Ao contrário, vivemos em um corre-corre incessante que nos traz desgaste e estresse.

Trabalhar sistematicamente a ansiedade é fundamental para acalmar nosso corpo nas suas impulsividades e, no caso, a impulsividade para a comida.

O exercício físico, o relaxamento muscular, a dedicação a atividades que nos tranquilizam: escutar música, cuidar de plantas, trabalhos manuais, orações etc. podem nos ajudar nessa mudança. A questão, portanto, não é de força de vontade. É mudança de hábitos do estilo de vida.

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