“Minha vida é um lixo, puro fracasso! Preciso mudar urgentemente! Meu casamento está um desastre, vários problemas profissionais e passo por grandes dificuldades financeiras. Tenho buscado por todos os lados melhorias, mas quando meu destino vai melhorar?”
Adriano, de Manhuaçu
A base do fracasso humano é acreditar na sorte e no azar. Numa sociedade supersticiosa, é bastante difundida a crença no destino. Quase todas as pessoas acreditam nisso. E a consequência principal dessa visão fatalista da existência é não assumir responsabilidade pela própria vida.
Tudo, absolutamente tudo, que nos acontece tem, em maior ou menor escala, nossa participação. Isso obviamente não significa que podemos controlar todos os acontecimentos e que a vida será totalmente como a queremos. Significa apenas que somos responsáveis pela nossa vida e podemos melhorá-la, aprender com nossos erros e ter uma existência cada vez mais feliz.
A tarefa de construir a própria felicidade exige muita paciência, muito trabalho, muito aprendizado e, sobretudo, muita responsabilidade.
O que significa responsabilidade? A palavra vem do latim: respondere. Responsável é aquele que responde pelos seus pensamentos, pelos seus sentimentos, pelas suas ações. Ninguém é encarregado de me fazer feliz e nem eu sou responsável pela felicidade de outrem. Cada um é responsável por ele próprio, e esse é o primeiro e definitivo sinal de maturidade. A criança, por não deter ainda os principais instrumentos do viver, não pode evidentemente ser dona de todas as suas ações. À medida, porém, que vai crescendo ela vai assumindo não só o direito de escolher seus caminhos como de responder por eles.
A formulação da pergunta do leitor revela uma personalidade infantil, imatura, que culpabiliza “a vida” e “o mundo” pelo que lhe acontece. Alguém me fazer seguro e feliz é impossível se se acreditar que depende unicamente dos outros a concretização do nosso bem-estar. Transferir para outrem a própria realização gera muita cobrança e controle nos relacionamentos.
Acabamos tentando controlar as ações dos filhos, da esposa, do marido, dos pais para que sejamos felizes. Não seria muito mais fácil e visível que cada um conquiste sua felicidade e depois vá desfrutá-la na companhia dos outros, que também a conquistaram por eles mesmos? Assim eu penso o amor. A união de alegrias.
Quando esperamos fora de nós a felicidade, nos esquecemos de nós mesmos, colocamos nossas necessidades em segundo lugar e perdemos o autoamor. A postura de “vítima” é não acreditar que podemos mudar nossas vidas, exatamente por acreditar no destino. Os acontecimentos exteriores de nossa vida são resultados diretos de nossas atitudes internas. Cada um faz seu próprio caminho, ainda que não tenha consciência disso. Acreditar nisso é o primeiro passo para uma vida melhor.
Viver é escolher o tempo todo. Nossa estrada é construída através de uma sucessão de escolhas. E cada ato, por mais insignificante que seja, tem uma consequência. Assim, os próprios erros e aprender com eles é que garantem uma vida de aperfeiçoamento contínuo. Sempre erramos e sempre vamos errar. Ninguém é perfeito. Podemos, porém melhorar a qualidade de nossa trajetória na nossa vida em todos os sentidos. Isso só acontece, no entanto, se pararmos de acusar o mundo e outras pessoas pelos nossos problemas.
A maioria das pessoas, no entanto, se julgam perseguidas pelo azar e censuram todos, menos a si próprias. Recusam a responsabilidade de seus relacionamentos malsucedidos, dos seus problemas, vivem se queixando de tudo e de todos e não reconhecem a estreita ligação entre o que lhes acontece e as suas atitudes mentais. São pessoas que não delimitaram o próprio espaço na vida. Na verdade, não existem enquanto indivíduos e são totalmente “misturadas” com os outros.
A proteção excessiva aos filhos cria neles esta incompetência de ser donos da própria existência, das próprias escolhas. Atrás de todo filho irresponsável há pais que protegem e que “escolhem” no lugar do filho. Os limites são a porta de relacionamentos sadios. O limite nos faz firmes e conscientes de nos relacionarmos com os outros sem sufocá-los com nossos controles. Confiança em si mesmo é apenas saber que, apesar de imperfeitos, respondemos pela nossa vida.
Sem autonomia, é impossível ser feliz. Ser responsável é ter a humildade de assumir nossas quedas, nossos erros, nossas dificuldades. É escolher novos caminhos se a vida não estiver boa.
Não existem vítimas do destino. Nós somos sujeitos da nossa história e podemos transmutar as dores da existência humana. Sorte é estar de olho aberto e aproveitar as oportunidades. Azar é esperar que a felicidade caia do céu. Feliz de quem acredita, no fundo do coração, na sabedoria da antiga canção: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.