“Terminei um relacionamento de sete anos, entre namoro e noivado, tudo por causa de brigas, CIÚMES e até mesmo pela rotina em que o relacionamento acaba virando. Desisti! Agora estou sozinho, mas tenho medo de ela começar um novo relacionamento. A questão é que se ela me procurar eu não quero mais nada... O que será isso?”
Marcelo, 30 anos, de Belo Horizonte
São inúmeros os casos de relacionamentos como o do Marcelo. Namoros ou noivados que se desfazem depois de um período aparentemente amoroso, ao surgir a necessidade de maior definição do relacionamento. Esses términos, em geral, são provocados pelos homens, gerando nas mulheres um grau excessivo de sofrimento, demonstrado, sobretudo, por uma enorme perplexidade e angústia traduzidas pelas perguntas e observações diante do abandono:
“Mas ele parecia me amar tanto”. “Ele tinha tanto ciúme de mim”. “Eu fiz tudo por ele”.
“A gente se dava tão bem na cama!” O que está por trás desse comportamento? O MEDO DE AMAR, A INCAPACIDADE DE AMAR.
Na nossa cultura, os homens, no geral, foram treinados para um verdadeiro pavor de envolvimento. Adoram sexo, o prazer imediato do relacionamento, a sedução esporádica, mas tremem diante de qualquer coisa que signifique compromisso. Mães dominadoras, possessivas, excessivamente protetoras, criaram homens com medo de amar. O que na verdade é o medo do abandono. Assim é a manifestação do ciúme masculino na nossa sociedade. A indiferença masculina é uma defesa preventiva à possibilidade do abandono, da dominação, da traição feminina. O ciúme, ou seja, o medo de perder inviabiliza o amor, que é sempre risco, confiança e entrega.
Daí o fato de o Marcelo ter terminado um relacionamento de sete anos ao se aproximar da possibilidade do casamento. É a chamada síndrome do laço no pescoço. Aliás, é comum falar do casamento como forca, prisão etc. Quando, porém, ele fica sabendo que ela está com outro relacionamento ele fica “louco de ciúme” e tenta se aproximar. E se ela aceita a aproximação, ele a despreza novamente. E às vezes relacionamentos movidos por essa estrutura ficam anos neste jogo do vai e volta e com muito sofrimento para ambos. Por isso a ideia de que o ciúme não faz parte do amor, como muitos pensam, mas, ao contrário, é uma doença do amor. É a erva daninha que, se não tratada, sufoca o amor.
A incapacidade de amar é o seguinte: quero todas as vantagens prazerosas do relacionamento (eu gosto dela), mas meu medo de perder me faz não querer os riscos possíveis do compromisso. E como sempre, quem tudo quer, tudo perde. Perde, sobretudo, a vivência gostosa do amor, representada pelo companheirismo, sensação de inclusão e pela paz dos que se relacionam com afeto e ternura.
Como, porém, em todo relacionamento a mão é dupla, essa dificuldade masculina é reforçada e alimentada pela contrapartida da mulher. Ao contrário do homem, em polo oposto, as mulheres em geral são extremamente carentes. Carência provocada pela ausência ou frieza paterna, realimentada continuamente pela falsa crença cultural de que a mulher só será feliz se tiver “alguém”, se casar e se tiver filhos.
Daí o ciúme feminino, traduzido em um controle excessivo do namorado, ou marido, em um desejo de estarem juntos o tempo todo, sufocando e oprimindo a individualidade do outro. Aqui a síndrome é a do laço na mão, pronto para laçar o homem.
Imaginem a impossibilidade de um relacionamento em que a mulher, dada a sua insegurança e carência, faz de tudo para prender e segurar um homem cuja neurose principal é ter pavor de ficar preso.
Relacionamentos dessa natureza, mesmo quando as pessoas se casaram, terminam sempre de maneira traumática e mesmo antes do término são permeados por brigas constantes, ciúmes, violências verbais ou físicas, constantes términos e voltas e muito sofrimento.
O pano de fundo de tudo isso é o ciúme, ou seja, o medo de perder, o medo do abandono, o medo de amar, o medo da solidão ou o medo do compromisso. Ainda que o ciúme apareça com várias caras, é sempre ele o responsável pelo sofrimento na relação amorosa. Em vez de as pessoas tratarem desse sentimento que tão mal faz às construções amorosas, elas preferem terminar os relacionamentos, achando que o próximo será melhor. De fato, cada relacionamento é a preparação para o próximo, desde que eu cresça e aprenda a partir das minhas limitações, sobretudo a partir do meu ciúme, principal inimigo do amor.