“Gostaria que você falasse sobre a INVEJA, esse sentimento negativo que tem um efeito devastador em nossas relações. Como trabalhar a inveja, seja a nossa ou a dos outros?”
Fabiana, de Betim
A inveja é fruto da comparação, e é nesse ponto que devemos centrar nossa atenção. Um exercício prático é o desenvolvimento sistemático da autocomparação, a comparação conosco mesmos. Sabemos sempre muito bem quanto ganham os nossos vizinhos, os nossos amigos, os nossos parentes, mas jamais fizemos uma análise do índice do nosso crescimento nos últimos anos. Estamos hoje piores ou melhores do que éramos ontem? Em termos sociais, psicológicos, financeiros, espirituais, estamos melhores ou piores do que estávamos há algum tempo?
Há uma grande diferença entre a comparação com os outros e a comparação conosco mesmos. Na autocomparação, fortalecemos o nosso eu, o nosso centro, o nosso ponto de equilíbrio. Passamos a nos dirigir de dentro, em função do que realmente somos e não em função do que os outros esperam de nós. Não se resolve a inveja, o ressentimento, torcendo pela queda do outro, porque negar as próprias limitações com as limitações dos outros não dá vida a ninguém.
A autocomparação nos leva a um fortalecimento interior. Fortalecemos a nossa identidade, reencontramos a nós mesmos, passamos a ser o nosso próprio ponto de apoio. Cada pessoa tem o seu ritmo, o seu jeito, o seu caminho, o seu próprio nível. Não estamos no mundo para ser mais do que alguém, mas apenas para realizar o nosso próprio potencial, para ser cada vez mais, cada vez melhores. No fundo de cada sentimento de inveja existe o sentimento de admiração, mas esse só pode desabrochar quando estamos muito centrados no nosso próprio tamanho.
O invejoso, quando vê alguém a quem deveria admirar, tende a diminuir essa pessoa. Essa é a diferença entre as estrelas e os planetas. Cada estrela é de uma grandeza, de um tamanho, como nós, mas tem sua luz própria, brilha com sua própria luz. O planeta não tem luz própria e só consegue brilhar roubando a luz das estrelas. Só quando formos padrão de nós mesmos reencontraremos a alegria de ser o que somos, de ter o que temos, de viver como vivemos. Somente o exercício da autocomparação nos levará à autoaceitação, à realização do nosso próprio potencial.
A partir da autoaceitação incondicional, nós nos valorizamos e estruturamos uma autoestima salutar, base de uma vida psicológica saudável. O invejoso, ao julgar e denegrir o outro, esconde, na verdade, uma autoaversão, fruto de um rigor excessivo consigo mesmo. Autoestima baixa e inveja andam de mãos dadas. Todo movimento em direção ao autoamor é um antídoto à inveja. O contrário da inveja é a admiração, o amor. Se amamos alguém, queremos o seu bem e ficamos felizes com o seu êxito, com sua felicidade. A inveja impede a realização do amor na relação pais e filhos, entre irmãos, no namoro ou na amizade. Amar é ficar alegre com a alegria do outro. Invejar é não suportar a felicidade do outro.
No relacionamento amoroso, em vez do confronto, da hostilidade, da competição, o caminho é de identificação e proximidade com o outro. A inveja destrói os relacionamentos mais próximos. Todos nós tendemos a nos colocar acima dos outros para ser amados e admirados. Com a inveja, no entanto, obtemos o resultado inverso: as pessoas se afastam de quem é uma ameaça para elas.
Ao nos aceitar tal qual somos, com serenidade podemos admirar aqueles que são melhores que nós e aprender com eles. A crítica, instrumento por excelência da inveja, desqualifica o outro. A admiração, instrumento por excelência do amor e do aprendizado, enaltece o outro no que ele tem de melhor e nos une a todas as outras pessoas. Afinal, todos nós fazemos parte da grande família do mundo e é a diversidade entre as pessoas, nas suas qualidades e competências, que nos faz companheiros de viagem e de crescimento.
“Nós não estamos no mundo para ser melhores do que os outros, mas para ser, cada vez mais, um pouco melhores.”