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Tenho medo de ser feliz

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“Queria ser como esses jovens: 'Se não der certo, separe!'. Sou casada há 17 anos. Meu marido é muito autoritário, me trata mal, mas não dou conta de me separar dele. Por que é tão difícil?”
Valéria, de Contagem
 
 
 
O medo e a dificuldade da separação estão no coração de quase todas as pessoas. Quando falamos a palavra separação, logo vêm à nossa cabeça várias associações: dor, tristeza, mágoa, abandono, perda, fracasso, choro, despedida.



Raramente nos damos conta de que separação significa, basicamente, escolha. Separar o joio do trigo. Separar grão por grão do arroz. A dificuldade começa com um grande medo: será que meu sofrimento sem a pessoa que me faz sofrer será ainda maior?. Ruim com ele, pior sem ele.
 
A ansiedade decorrente da possibilidade de perder alguém sempre está presente. Por isso, tantas dúvidas. Será este o momento de desistir do relacionamento? No começo o nosso relacionamento era tão bom. Será que não pode voltar a ser como era?

Além de todas essas questões, ainda surgem o receio da crítica de terceiros, principalmente da família, e o grande medo da solidão e do desconhecido. O medo nos mantém presos a situações dolorosas, a pessoas que nos dominam e torturam, mais do que o amor.

MEDO DO DESCONHECIDO. Na nossa busca incessante por segurança, permanência e estabilidade, temos a tendência a nos prender a tudo que já é conhecido e a temer o inesperado, o que ainda não controlamos. Há um certo conforto em ficarmos acomodados a situações que nos fazem sofrer, mas que são conhecidas.



É a chamada zona de conforto. Preferimos a dor do conhecido à possibilidade do prazer. Todos tendemos à estagnação, à acomodação contra o risco de novas oportunidades, novos interesses, novo modo de viver. Muitas pessoas justificam tal tendência dizendo que não saem da relação infeliz por pretender salvar o relacionamento e por ser persistentes.

Trata-se na verdade de uma grande teimosia. Todas as pessoas em volta já perceberam a realidade daquela relação, já sabem que ele ou ela não vai ser como gostaríamos, que o respeito e o amor já acabaram e continuamos com uma cegueira metódica para não tomar uma decisão. Até a procura a uma terapia de casal pode, em determinados casos, significar um truque para não mudar.

Procurar uma terapia, buscando a verdade, é extremamente salutar. Ela pode nos ajudar a ver a realidade e nos encaminhar para a felicidade. Procurá-la para preservar relações dolorosas, para “salvar” o casamento, para segurar o parceiro, para manipular e controlar o outro é transformá-la em mais um instrumento do jogo do casal.





MEDO DA SOLIDÃO. A maioria das pessoas parte de um pressuposto falso na vida de que se tiver alguém como parceiro será automaticamente feliz. Que o namoro, o casamento nos levam necessariamente à felicidade. Isso na prática não acontece. O que nos faz felizes são relações respeitosas, alegres, na base da admiração e do companheirismo.

Quando faltam esses ingredientes, sofremos. Partindo, porém do pressuposto falso, em vez de batalhar por relações sadias, gastamos todas as nossas energias para conservar e manter as pessoas conosco. Daí o medo da solidão, o medo de ficar sozinho. Nesse caso, não estamos na vida para ser felizes, mas para “termos” alguém.

Preservar a relação a qualquer preço passa a ser o nosso único propósito e a fantasia de conseguir mudar o parceiro nos mantém atrelados a ele. É claro que a separação não é a única saída para um relacionamento complicado. Se ainda há respeito, admiração e afeto, apesar das dificuldades, a relação pode ser tratada.

Vale a pena tentar inúmeros caminhos de aprendizagem e de mudança. O que não vale é acostumar-se ao sofrimento e a partir de uma excessiva autoproteção, perpetuar-se em relações infelizes. O que não vale é viver morrendo em nome de um amor que já acabou e fechar o coração para novas oportunidades.

Estamos na vida para ser felizes ou para estar com alguém?




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