A cultura americana, expressa claramente nos filmes de Hollywood, sempre enfatizou que a felicidade só pode ser alcançada através do casamento. Quem não se lembra dos finais dos filmes românticos, quando o casal se afasta abraçados e “foram felizes para sempre”?.
A mensagem subliminar, falsa, perigosa e cruel é que você só se realiza por intermédio de outra pessoa. E essa ideia se internalizou em nós, principalmente nas mulheres, de tal forma que toda nossa energia vital não é canalizada para aprendermos a ser felizes, mas para arranjar um(a) namorado(a) e casar.
Daí os sentimentos angustiantes de solidão, do medo de ficar só. O que dói e provoca a sensação de desamparo não é o fato de não ter um companheiro, mas a crença alimentada em toda a sua vida de que ela só será feliz quando tiver alguém e que é justo e natural sofrer por não ter ainda este alguém.
Há uma profunda diferença entre “estar só” e “solidão”. O estar só é um fato objetivo. Cada um de nós, em alguns momentos ou em alguma etapa da vida pode estar só. A singularidade de cada pessoa, a unicidade do indivíduo atestam “o só” como condição básica e fundamental do homem. E é a partir deste “só” que nos unimos às outras pessoas. Tentar acabar com esse “vazio” natural do ser humano a partir de outra pessoa é a raiz do controle e das frustrações nos relacionamentos.
Inúmeras vezes tenho ouvido frases que denotam essa crença: “Ele não me fez feliz”, “Vou fazer você feliz”. Ninguém pode fazer um outro feliz. Ou, em outras palavras, ninguém preenche as falhas da outra pessoa. A solidão, ao contrário do estar só ou da sensação natural de ser só, é um estado natural doloroso de mendicância, de carência, de falta, de necessidade. É a resistência dolorosa a uma existência autônoma, na qual eu desejo o outro, mas não tenho uma necessidade obsessiva do outro. A carência afetiva, fruto do medo do abandono, é a raiz da solidão.
Quais as consequências da solidão na nossa vida? A procura incessante do outro como fator de felicidade nos leva a escolher “qualquer” pessoa para nos preencher. Essa má escolha, feita a qualquer preço, além de não nos fazer felizes tende ao término e quando isso ocorre nos remete a uma solidão (carência) maior ainda do que antes do namoro ou casamento. As relações entre pessoas que têm solidão são dolorosas e frustrantes porque é o encontro de “dois mendigos”. Além da exploração mútua, esses relacionamentos se caracterizam pelo ciúme, apego excessivo, controle, posse, cobrança do amor do outro.
Na verdade, a solidão é uma incapacidade de amar. No amor, procuramos alguém para partilhar com ela nosso afeto, nossa alegria, nossa construção de vida. Uma pessoa amorosa, mesmo que não esteja casada, leva uma vida rica e sente necessidade de alargar, cada vez mais, através das amizades, do crescimento, de sua contribuição do mundo. A autoestima de quem tem muito amor no coração não é medida pelo amor do outro. “O seu valor vem da sua capacidade de amar, e não pelo fato de ser amada”.
Quanto mais pobre for a nossa vida psicológica, mais solidão sentiremos, mesmo que estivermos com alguém. E quanto mais rica, mais amor e menos solidão, mesmo sozinhos. Essa insistência social de dar muito valor ao fato de estarmos casados ou namorando nos induz a um desleixo no valor de estarmos felizes. Talvez esse seja o motivo principal porque a maioria dos relacionamentos se deteriora. As pessoas, ao se encontrarem, param de crescer emocionalmente, de desenvolver o próprio potencial, de incrementar o autoamor, de procurar, enfim, os seus caminhos próprios para a felicidade.
Trocar de marido, de mulher, de namorado não vai adiantar nada enquanto acreditarmos que alguém pode nos fazer felizes ou acreditar que ser só é sinônimo de tristeza e fracasso. Ser feliz é algo pessoal, inalienável e intransferível. È uma batalha individual. E quando alguém consegue ser feliz, ainda que só, é maravilhoso querer alguém para compartilhar com ele da sua luz e alegria.