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Estado de Minas COLUNA

O homem e as guerras

Que os loucos cuidem dos seus próprios loucos. Que cada um de nós proteste, ao seu modo, contra qualquer guerra


22/08/2021 04:00 - atualizado 22/08/2021 09:11

“Como explicar as guerras? Será que em 2022 terá alguma? Podemos acreditar no homem, poço de maldades?”

Lincoln Duarte, BH

Meus olhos se enchem de lágrimas ao ver qualquer foto de guerra: o desespero, a agonia, o pânico e a dor nas expressões de velhos, de crianças e do medo do desconhecido no olhar dos pais de família.

Cenas profundamente tristes que aparecem nos fazem lembrar de Nero e de Hittler. Diante disso, a tentação é descrer do homem, é maldizer a natureza humana, é acreditar, como alguns filósofos, na maldade intrínseca da pessoa humana.
 
As guerras sanguinárias, possessivas e perversas apresentam consequências para o mundo que irão além das mortes físicas, da destruição da cultura arquitetônica da antiga Babilônia, da humilhação de um povo, cujo único pecado é ter nascido em determinado local.

Qualquer guerra, de fato, poderá minar o coração de toda a humanidade, plantando nele a semente da desesperança na capacidade de o homem ser bom, generoso, amoroso e terno. No estágio de evolução em que nos encontramos já não é fácil crescer, desenvolver e se livrar da tendência à violência, à opressão, ao mando e domínio do outro.

Por diversas ocasiões, tenho reiterado que a falência das relações, tanto sociais quanto íntimas, está na ausência do diálogo, na falta do amor, na posse, no abuso do poder.

No plano internacional, a ONU sempre representou a esperança de um relacionamento onde houvesse a supremacia do entendimento sobre o uso da força entre as nações.

Dividir o mundo, de uma forma maniqueísta, entre o Bem e o Mal e, pior ainda, dar-se o direito de determinar, de uma maneira unilateral, quem representa o Bem e quem representa o Mal, é lançar cizânia na plantação paciente, demorada e difícil da evolução do mundo à procura da integração do amor em cada um de nós como força propulsora do desenvolvimento espiritual, material, social e ético da humanidade.

Se há que haver desesperança não é na capacidade amorosa do homem e nem na sua tendência para o bem. Não podemos descrer do nosso destino solidário, compassivo, pacífico e construtivo. A força interna de cada pessoa, que é a presença de Deus dentro de nós, é imensamente poderosa e grandemente elevada e é isso que nos sustenta nas crises, nas dores, nas perdas e nas descidas ao purgatório da vida.

Toda a nossa indignação deve se voltar não contra a natureza do homem, mas aos sistemas de poder, de ganância, de inversão do bem, presentes nas estruturas ciumentas e possessivas de nossa sociedade e de alguns dos seus dirigentes.

A grita geral de oposição a essa guerra, traduzida em numerosas manifestações pacifistas pelo mundo inteiro, a desaprovação pela maioria das pessoas significa, além do fenômeno da globalização, que nem tudo está perdido, que o homem é bom, que a natureza humana é irmã de seus irmãos, independentemente da odiosa demarcação geográfica ou da intolerante segregação religiosa.

Não podemos fechar nossos olhos e corações aos elevados valores existentes no mundo em meio a tantos desvarios e loucuras fundamentalistas de alguns fanáticos, seja no delírio do petróleo, do poder político, do poder religioso ou do poder militar. Onde há sombra, há luz. Onde há obscuridade, há sabedoria. Onde há guerra, há paz.

Enquanto os céus iraquianos, há alguns anos atrás, recebiam a visita dos demônios e dos infernos, nos criminosos mísseis de alta e moderna tecnologia, os céus do mundo inteiro recebiam as orações de um papa, vestido de branco, e as preces de todas aquelas pessoas que acreditam em um Deus feito de acolhimento, de amor e de paz.

O medo fecha o coração para o amor. O medo destrói a esperança. Para o povo sofrido pode ser que o maior mal da guerra sejam as mortes, as dores físicas e morais, as perdas de todos os níveis. Para o resto da humanidade, porém, o maior crime perpetrado será atingir nossos corações com o míssil da descrença.

Que nos tirem a vida, os alimentos, o sangue, o solo, mas jamais a nossa esperança. Os sobreviventes das grandes crises e catástrofes, como, por exemplo, dos campos de concentração, são unânimes em afirmar que a única coisa que os mantinha vivos era algum sentido na vida, a fé em alguma possibilidade. Deixar que os Senhores da Guerra destruam a nossa fé, nossa esperança ou nosso amor é entregar-lhes nossos corações.

Que em 2022 possamos educar nossas crianças e jovens para a paz. É hora de mostrar-lhes que a grande maioria do mundo é contra a guerra e que apenas alguns poucos, que são os donos das bombas, estão abusando do poder e que só algumas partes do mundo, temporariamente, estão sendo dirigidas por loucos.

Que os loucos cuidem dos seus próprios loucos. Que cada um de nós proteste, ao seu modo, contra qualquer guerra. É uma forma de mostrar nossa esperança de que, apesar dos pesares, o planeta ainda vai respirar alegria e paz, nem que seja quando nossos netos ou os netos de nossos netos governarem o mundo. Que nos roubem tudo, menos a nossa alma.

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