“Estou sem esperança, cansado e desesperado. Tenho uma ótima casa, uma ótima esposa e filhos maravilhosos e um bom emprego. Como sair, porém, desse vazio?”
Paulo Rodrigues, de Viçosa
A pergunta do leitor é formada de três partes. A primeira parte é sombria, depressiva, impregnada de dor. A terceira parte é luminosa, afetuosa, prazerosa. No meio das duas, ele se coloca na gravidade de sua afirmação: “Estou sem esperança”. A esperança é uma forma ativa de enxergar a realidade.
O pessimista cronifica as perdas, vê o que falta na sua vida, se emaranha em lembranças saudosas, guarda rancores e se culpa pelos seus limites. O otimista nega a sombra, racionaliza o lado desastroso da existência, cindereliza a vida, só vê o bom, se perde no mundo do “faz de conta”, e, sem saber, se prepara para a decepção do pessimista quando eventualmente a casa cair.
Leia Mais
Todo sentimento negativo nos faz sofrerComo lidar com filhos adolescentes A nova família: o que mudouEu te compreendoTem jeito de vivermos (ainda mais se tivermos a graça de viver muitos anos) sem perdas, sem doenças, sem abandonos, sem nos desorganizar de vez em quando, sem injustiças ou traições? Neurótica é a pessoa que não vê o óbvio. Enclausurados numa ideia romântica, idealizada de como o mundo deveria ser, não aprendemos a única coisa que precisamos na viagem humana.
Saber lidar com o fracasso quando ele bater à nossa porta. Ninguém é convidado a ultrapassar uma perda soltando foguetes. Só um otimista tolo faria isso. Exige-se dele apenas não perder a esperança ou ficar em um beco sem saída, o que é a mesma coisa.
Talvez não haja a saída que, na sua onipotência, ele deseja: que não tivesse tido a perda, que ele não tivesse cometido erros que o levaram a perder, que não tivesse sido passado para trás. Mede-se a humildade de uma pessoa, companheira, inseparável da esperança, na hora dos tombos, quando nos deparamos com a fragilidade humana.
Talvez não haja a saída que, na sua onipotência, ele deseja: que não tivesse tido a perda, que ele não tivesse cometido erros que o levaram a perder, que não tivesse sido passado para trás. Mede-se a humildade de uma pessoa, companheira, inseparável da esperança, na hora dos tombos, quando nos deparamos com a fragilidade humana.
Por que será que, diante do infortúnio, alguns elaboram e aprendem e outros se comprazem em ficar na sombra, esperando que alguém venha salvá-los? Onde buscar forças para a travessia? Dentro de nós. Na reflexão interna.
Muitas pessoas ficaram impressionadas com o intenso sofrimento de Jesus Cristo mostrado pelo filme de Mel Gibson. O que mais me impressionou foi a rapidez com que tudo aconteceu. Após três dias da morte estava tudo resolvido: Ele ressuscitou.
O sofrimento faz parte da vida humana. O que não podemos é permanecer muito tempo na dor, transformando-a em uma forma de viver. A esperança é a ponte entre as atribulações e nossa ressurreição de cada dia.
O pesar pela perda é normal, mas não podemos botar em dúvida nosso valor, nossas crenças, nossa essência, nossos desejos, nosso lado luminoso. E para isso, basta fechar os olhos e ouvir o coração. Peço ajuda a Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena, se a alma não for pequena”.
Nossa alma é maior que todas as desgraças. Nos momentos de maior aflição sempre há brechas para o sol entrar. Temos, porém, de cooperar. Conversar com os amigos, caminhar (mesmo chorando), rezar, dançar, agradecer as coisas boas e as pessoas amadas, expressar os sentimentos ruins são algumas possibilidades de quebrar a couraça do sofrimento e deixar que um pouco da graça apareça.
Nossa alma é maior que todas as desgraças. Nos momentos de maior aflição sempre há brechas para o sol entrar. Temos, porém, de cooperar. Conversar com os amigos, caminhar (mesmo chorando), rezar, dançar, agradecer as coisas boas e as pessoas amadas, expressar os sentimentos ruins são algumas possibilidades de quebrar a couraça do sofrimento e deixar que um pouco da graça apareça.
Esperança é saber que tem jeito. E que nós temos jeito. Nem que seja mudar o jeito de ver a vida.