“Sou casado, há pouco tempo e minha mulher implica com os meus amigos, sempre os criticando. Gostaria que ela fosse amiga deles.
O que fazer?”
Roberth, de Manhuaçu
Quando solteira, cada pessoa desenvolve as suas amizades. É na- tural que, ao se casar, cada parceiro queira aproximar e unir seus amigos ao outro parceiro. Acontece que são amigos, à semelhança das famílias do casal, que não foram escolhidos. A partir daí, o direito de que essa esco- lha seja exercida pelo casal, usando os critérios de cada um e decidindo quais deles os parceiros querem como amigos.
Não pode haver obrigatoriedade de que todos os amigos de um sejam amigos do outro. Dentro disso, cada parceiro continuará com seus amigos e o casal terá alguns amigos em comum. Os que forem comuns partilharão da vida do casal, serão recebidos pelos dois, terão programas em conjunto. Os amigos individuais serão cultivados apenas por cada um dos parceiros.
O marido não pode evidentemente obrigar a mulher a suportar o seu “melhor amigo” se esse não foi escolhido por ela, e vice-versa. A obrigatoriedade cria resistência e disputa. A compreensão dessa autonomia de cada um é difícil porque aprendemos que é prova de amor a pessoa gostar de quem nós gostamos. Isso se aplica também, e cada vez mais, aos filhos e parentes de cada um.
Hoje, com o aumento de recasamentos, existem os filhos do casal e existem os filhos de cada um. A visão idealizada de uma harmonia obrigatória entre todos os membros da família de cada parceiro tem levado muita desavença para a relação conjugal. “Se você me amasse, você gostaria de todos os meus parentes...”. Respeito e cordialidade todas as pessoas merecem, mas ser amigo é dife- rente. Como a amizade é algo sagrado, os critérios de escolha têm de ser claros para todos nós e nem todas as pessoas podem ser nossas amigas.
Como já citei em outros artigos, três critérios são fundamentais para escolher um amigo. Primeiro, ficar alegre com nossa alegria. Pessoas invejosas, críticas, destrutivas não nos ajudarão na nossa sanidade e dignidade. Segundo, aceitar o meu não. Amigos controladores, que querem me submeter sempre à sua vontade, não aceitando a minha autonomia atrapalharão meu equilíbrio emocional. Terceiro, me ajudar a conviver com minhas fraquezas, em vez de estar o tempo todo me criticando.
Amigos que se arvoram em ser meus educadores, terapeutas e guias espirituais acabam, através da crítica, por minar minha autoestima, dificultando a minha aceitação como pessoa humana, o que é essencial para eu ser feliz. O casal precisa de amigos. É essencial porque expande o mundo conjugal, é fonte de alegria e divertimento, contribuindo para um maior equilíbrio emocional. A presença dos amigos não pode, por outro lado, ser tão constante e invasiva que prive o casal da sua própria intimidade. Conheço casais que são incapazes de estar sozinhos em umas férias, por exemplo. Tentam preen- cher o vazio da relação com a presença excessiva dos amigos. É sinal de insegurança.
Em outro extremo, porém, o parceiro que tenta afastar todos os amigos do outro e do casal possivelmente está sendo movido pelo ciú- me e pelo controle. É comum entre namorados a tentativa de afastar a pessoa amada dos seus amigos, sempre alegando, através das críticas, que aquele amigo ou amiga não é uma pessoa boa, honesta etc.
Você não é obrigada a ser amiga dos amigos de seu marido ou namo- rado, mas você tem a obrigação de respeitar a escolha feita por ele. Essa tolerância e abertura para com as pessoas sagradas para o outro é a antítese do autoritarismo de quem se julga no direito de determinar de quem o outro pode gostar.