Amanhã (29/01) é o Dia da Visibilidade Trans. Essa data foi escolhida porque, em 29 de janeiro de 2004, foi realizada, em Brasília, uma manifestação nacional para o lançamento da campanha “Travesti e respeito”. O ato foi um marco para a luta contra a transfobia e a data foi escolhida como o Dia Nacional da Visibilidade Trans.
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População trans ainda sofre com falta de acesso à educaçãoComo a indústria não atende às demandas da população negra?Representatividade importaMercado de startups ainda possui pouco espaço para empreendedores negros 140 travestis e pessoas trans foram assassinadas no Brasil em 2021Por que parte da imprensa ainda insiste em ignorar o racismo nas redações?Maneiras 'sutis' de excluir grupos minoritários no ambiente de trabalhoEm janeiro de 2020, participei da produção de um programa jornalístico que tinha como principal tema as vivências de pessoas trans. Uma das entrevistadas compartilhou que, durante uma consulta médica, ao explicar que era uma mulher trans, antes mesmo de explicar qual era o motivo que a levou até o consultório, o médico pediu uma triagem de exames para saber se ela tinha alguma infecção sexualmente transmissível. Infelizmente, ainda hoje, muitos profissionais subentendem e associam o meu corpo trans a ISTs.
Além disso, durante consultas médicas alguns profissionais da saúde ainda se recusam a respeitar o nome e pronomes de pessoas trans. Aliás, muitas vezes nosso constrangimento já começa na recepção do consultório ou hospital, quando em alto e bom som anunciam nomes que não são os nossos. Situação que sempre vem acompanhada de risadas, “piadas” e olhares invasivos.
Algumas médicas e médicos chegam ao ponto de se recusarem a tocar o corpo de pessoas trans por nojo ou receio, ainda que isso seja feito de uma maneira “sutil”. Outros profissionais justificam a recusa em atender com o argumento de que nunca atenderam uma pessoa trans e, por isso, preferem não arriscar.
Ou seja, estereótipos, preconceito e desinformação se manifestam na forma como esses profissionais atuam em relação à população trans. Só para você ter uma ideia, uma vez fui me consultar com um médico que já tinha experiência em atender pessoas trans. Mas, assim que ele abriu a porta, já soltou várias e várias “piadas” transfóbicas e homofóbicas.
Em um determinado momento, já não aguentando, perguntei se ele realmente já tinha experiências de atender pessoas trans e disse que aquela atitude não era correta. Nossa conversa se prolongou e ele resgatou a memória da primeira vez que viu uma mulher trans. Ele estava de 5 para 6 anos. Segundo o médico, todas as pessoas adultas que estavam no mesmo ambiente deram risada e fizeram “piadas” em relação a mulher trans sem nenhum pudor. Depois de muito refletir, o médico percebeu que ela naturalizou essa situação absurda durante toda vida.
Ou seja, mesmo chegando a vida adulta, mesmo tendo um poder econômico mais elevado, mesmo com acesso à educação e tendo uma profissão que tem como base o atendimento a diversas pessoas, este médico ainda reproduzia estereótipos e preconceitos contra a comunidade trans por mais de 50 anos.
Todos esses preconceitos e o despreparo acabam afastando a população trans do sistema de saúde. Algo que é muito perigoso. Quando profissionais da saúde vão se comprometer e oferecer atendimento adequado e acolhedor para a comunidade trans?
É claro, também é importante apontar alguns avanços. Em novembro de 2017 foi inaugurado o primeiro ambulatório trans em Minas Gerais. O espaço localizado no Hospital Eduardo de Menezes, na Região do Barreiro, conta com uma equipe interdisciplinar e multiprofissional, composta por psiquiatra, endocrinologista, clínico, enfermeiro, psicólogo e assistente social.
Só para você ter uma ideia, seja a pessoa que trabalha na portaria, na recepção, na enfermaria ou nos consultórios, todos esses profissionais são bem preparados, receptivos e acolhedores. O ambulatório trans do estado é um dos poucos lugares que vou sem medo de ser julgado ou tratado mal por ser uma pessoa trans. Profissionais como a psicóloga Andreia Resende e o médico endocrinologista Eduardo Ribeiro Mundim são verdadeiras ilhas de acolhimento para a comunidade trans.
Mas, apesar desse avanço, muitas pessoas trans, principalmente as que moram distante da capital ou que não têm condição financeira de se deslocar até o ambulatório trans no Barreiro acabam não recebendo atendimento médico adequado. E essa realidade também se reflete em outras regiões do Brasil que não possuem esse espaço de acolhimento.
Ou seja, além de ampliar esse serviço, também é necessário criar outras políticas públicas para aumentar o acesso da comunidade trans à saúde e também humanizar o atendimento, seja na rede pública ou privada. Saúde é um direito!
Atendimento humanizado
- Ambulatório Trans Anyky Lima - rua Dr. Cristiano Rezende, 2.213, bairro Bonsucesso, Barreiro
- Telefones de contato: (31) 3328-5055 / (31) 3328-5000 / (31) 3328-5550)