Apesar de 52% das instituições financeiras no Brasil terem políticas de promoção da diversidade e inclusão (D&I), dessas, apenas 24% definiram metas e somente 35% têm indicadores e dashboards para acompanhamento dos avanços. Os dados são da pesquisa Diversidade e Inclusão nos Mercados Financeiro e de Capitais, realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que mapeou a maturidade do setor em relação a D&I.
A pesquisa online foi realizada entre junho e agosto de 2021, com o apoio da consultoria Goldenberg Diversidade. No total, foi registrada a participação de 94 instituições de diversos segmentos: assets, bancos de atacado, plataformas de investimento e conglomerados.
O levantamento também mostra que:
- apenas 16% das instituições contam com ações estruturadas, regulares, orientadas por metas e objetivos claros, principalmente os conglomerados;
- 18% fazem ações pontuais, porém sem política, metas e objetivos claros de atuação, o que acontece com mais frequência nas plataformas de investimento;
- 26% não têm nenhum tipo de atuação, mas têm interesse em promover diversidade e inclusão em suas organizações.
Mas, afinal, quais são as barreiras e desafios para o avanço da diversidade e da inclusão no mercado de capitais? De acordo com a pesquisa da Anbima esses são os principais motivos:
- a temática não é priorizada (41%);
- desconhecimento sobre o tema e formas de evoluir (40%);
- falta de ações práticas e intencionais (55%);
- falta de representatividade de diferentes grupos sociais nas organizações (55%);
- baixo engajamento da alta liderança das empresas (30%);
- baixo engajamento de colaboradores e colaboradoras das empresas (14%);
- ambientes de trabalho pouco inclusivos (32%).
E o que é necessário para reverter esse cenário no mercado financeiro no Brasil? A própria pesquisa Diversidade e Inclusão nos Mercados Financeiro e de Capitais aponta alguns passos que as instituições financeiras podem adotar:
- criação de programas de diversidade e inclusão - ou seja, entender de uma vez por todas que apenas contratar uma pessoa diversa ou realizar apenas uma palestra sobre D&I por ano não significa que a instituição tem compromisso real com a pauta. A criação e desenvolvimento de um programa de diversidade e inclusão necessita de investimento, grana mesmo, comprometimento, continuidade e tempo para realmente gerar impacto na cultura da instituição;
- é necessário também definir as metas e indicadores. É muito importante definir as ações que vão nortear o programa de diversidade e inclusão;
- definir as métricas - é muito importante definir quais as ferramentas vão mensurar os resultados e avanços;
- oferecer palestras e rodas de conversa sobre D&I para todas as pessoas contratadas pela instituição financeira e levar letramento e conscientização para toda a empresa;
- oferecer programas de mentoria para a liderança sobre o assunto;
- criar ações de equidade;
- a atração de candidatos mais diversos para processos seletivos;
- repensar os critério de contratação e ampliar a contratação de profissionais
- firmar parcerias com fornecedores que também investem de maneira prática em diversidade e inclusão;
- é necessário olhar para a diversidade e inclusão de maneira integrada.
Vale reforçar que a diversidade e inclusão além de promover justiça social, é fundamental para aumentar o engajamento, a criatividade, a inovação, a produtividade, a competitividade e também os lucros. Ou seja, D&I também precisa ser encarada como estratégia de negócios, que podem agregar muito valor para a instituição.
Não é à toa que, em alguns países, o mercado financeiro já dá alguns passos significativos em relação à diversidade e à inclusão. Em agosto de 2021, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (CVM), aprovou uma proposta da Nasdaq para que as empresas listadas tenham diversidade nos conselhos de administração, com pelo menos dois membros de grupos minorizados.
A nova regra já passa a valer para as mais de 3 mil empresas listadas na Nasdaq. Além disso, elas são obrigadas a trazer ao público os dados sobre diversidade em seu conselho um ano após a aprovação da regra. As empresas que não se adequarem ou não justificarem o porquê não o fazem podem ter suas ações retiradas da bolsa de valores.
O segmento financeiro brasileiro precisa e pode amadurecer e evoluir no quesito diversidade e inclusão. E, para isso, é necessário mais do que um discurso, é essencial intencionalidade, um bom planejamento, investimento e tirar as ações de diversidade, equidade e inclusão do papel.