Há alguns dias, vi uma publicação muito interessante no Linkedin. O post compartilhando fazia uma critica à empresas que hà anos contratam, na grande maioria das vezes, homens brancos, héteros e cis, deixando de lado grupos minorizados.
Além disso, quando essas empresas contratam uma ou duas pessoas diversas, elas têm a coragem de bater no peito que são instituições plurais e inclusivas.
E o que mais me chamou atenção nesse post é que essa crítica foi apresentada principalmente por meio de desenho, no caso oito rostos de homens brancos barbudos (todos iguais) e apenas duas mulheres com a seguinte frase: “Caras empresas, isso não é diversidade."
Infelizmente, essa situação ainda é muito recorrente, tanto que, em agosto de 2021, uma foto de uma grande empresa de investimento com colaboradores majoritariamente brancos rendeu várias críticas e até uma ação na Justiça.
Ao ler os comentários desta publicação no Linkedin vi frases do tipo: “diversidade gera lucro? Até onde sei empresas têm o papel de gerar lucro, através de um produto, logo ter um time "diverso" não é prioridade.”
Vale ressaltar que boa parte das pessoas que fizeram comentários semelhantes ou que curtiram tais comentários justamente são pessoas muito parecidas com os oito caras brancos e barbudos do desenho da própria publicação.
Vamos lá. Quando as empresas investem realmente em diversidade e inclusão, existe a promoção da justiça social, ou seja, pessoas que fazem parte de grupos minorizados passam não só a ter acesso a um trabalho digno, mas também têm acesso à equidade de salário, a um ambiente de trabalho acolhedor, seguro e que oferece oportunidade de crescimento na carreira.
Diversidade e inclusão é sobre pessoas e mudança de perspectiva. Tomar consciência da importância da pluralidade e do acolhimento e partir para ação.
Além disso, é muito importante ressaltar: investir em diversidade e inclusão não é esmola, nem filantropia, não é um processo de caridade, e eu posso provar!
Uma empresa que é dinâmica, criativa e inovadora está a mil anos luz à frente das demais. E, quando falo em inovação, não estou me referindo apenas a inovações tecnológicas, mas também na construção de fluxo de trabalho mais eficiente, no relacionamento humanizado com sua clientela, nas diferentes maneiras de desenvolver produtos, serviços e na elaboração criativa de soluções para as dores do seu público-alvo, entre outros.
Com certeza, você já participou de alguma reunião de trabalho onde sua liderança reforçou por várias vezes o seguinte: "precisamos ser mais criativos, mais inovadores, só assim vamos ter diferencial e destaque no mercado”. Já perdi as contas de vezes que já escutei frases como essas no ambiente de trabalho.
Mas me responda uma coisa: como é possível uma empresa almejar criatividade e inovação nos seus processos, produtos e serviços, se, ao colocar uma lupa na estrutura organizacional, é possível observar que não existem investimentos efetivos em diversidade e inclusão? Essa conta não fecha, e vou provar.
Já existem diferentes pesquisas, algumas até promovidas internamente pelas próprias empresas, que mostram que, por anos, majoritariamente o perfil das pessoas contratadas moram em regiões com maior poder aquisitivo, como a Centro-Sul em BH.
E não para por aí, muitas também só contratam profissionais oriundos de universidades federais. Quer dizer que de outras regiões como Venda Nova, Barreiro e de universidades particulares não saem talentos?
Além disso, existem empresas que insistem em exigir o inglês avançado, mesmo quando a função na prática não usa esse idioma. Você não precisa ser sociólogo ou trabalhar no IBGE para perceber que a maioria das pessoas tratadas nessas empresas são brancas e com um poder aquisitivo maior.
Ou seja, um perfil que se repete ano após ano. Não que essas pessoas não tenham talentos e criatividade, mas como pensar para além da bolha? Como observar e solucionar pontos cruciais que ninguém vê?
Como é possível fazer leituras de situações, demandas e dores de uma população que não é espelho? Como impactar positivamente a clientela que não é majoritariamente branca e da classe média alta?
Não é possível falar de inovação nas empresas se não existem investimentos em diversidade e inclusão. Ou seja, profissionais que possuem diferentes crenças, gêneros, raças, orientações sexuais e afetivas, que vieram de diferentes regiões de cidades e estados e são de diferentes gerações, entre outros, quando trabalham no mesmo lugar acabam agregando à empresa diferentes visões de mundo, diferentes bagagens culturais e sociais. E tudo isso contribui na busca em achar soluções eficientes para sanar as dores dos clientes.
Só para você ter uma ideia, uma pesquisa da Harvard Business revela que, em empresas nas quais o ambiente de diversidade é reconhecido, os funcionários estão 17% mais engajados e dispostos a irem além das suas responsabilidades. Ainda segundo a pesquisa, nas empresas onde a diversidade é reconhecida e praticada, a existência de conflitos chega a ser 50% menor que nas demais organizações.
Além disso, o relatório “A diversidade como alavanca de performance”, da consultoria McKinsey&Company, mostrou que empresas que investem em diversidade de gênero em suas equipes executivas, por exemplo, são 21% mais propensas a ter lucratividade acima da média do que as empresas que não investem em diversidade. Com relação à diversidade étnica e cultural, os dados indicavam 35% de probabilidade de desempenho superior.
Vale ressaltar também que já existem grandes acionistas pressionando empresas nos Estados Unidos para efetuarem investimentos reais em Diversidade e Inclusão. De acordo com dados compilados pela Bloomberg Intelligence, um recorde de 30 resoluções com foco em diversidade, equidade e inclusão estará na pauta das próximas reuniões anuais das empresas.
Não é à toa que, em alguns países, o mercado financeiro já dá alguns passos significativos em relação à diversidade e à inclusão. Em agosto de 2021, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (CVM) aprovou uma proposta da Nasdaq para que as empresas listadas tenham diversidade nos conselhos de administração, com pelo menos dois membros de grupos minorizados.
A nova regra já passa a valer para as mais de 3 mil empresas listadas na Nasdaq. Além disso, elas são obrigadas a trazer ao público os dados sobre diversidade em seu conselho um ano após a aprovação da regra. As empresas que não se adequarem ou não justificarem o porquê não o fazem podem ter suas ações retiradas da bolsa de valores.
Ou seja, muitas empresas já entenderam que, além da promoção da justiça social (que é extremamente importante), diversidade e inclusão também fazem parte de uma estratégia sustentável de negócios.