Há alguns dias, a TV Bahia apresentou a história de Sônia Seixas Leal, resgatada em 2021 após trabalhar 54 anos em condições análogas à escravidão. Durante todo esse tempo ela trabalhou em uma residência sem salário, acumulou dívidas feitas pela ex-patroa e também foi vítima de maus-tratos. Ou seja, por mais de 5 décadas, Sônia, que é uma mulher negra, não teve seus direitos desrespeitados e sua saúde mental foi destruída. Tanto que durante entrevista à TV Bahia, ela disse que tem medo de pegar na mão de pessoas brancas.
O que se vê mesmo é a lei da convence e manifestações de racismo, por exemplo: “eu pago menos de um salário mínimo, mas já é uma forma de ajudar ela, tadinha, tô fazendo minha parte. Além disso, ela é quase da família", “sei que você foi contratada apenas para cozinhar, mas tem como passar a roupa nesse mês? É só um favor mesmo, diz que sim! Somos família, né?!”.
Lembro que mesmo muito pequeno, achei estranho ter que comer separado, mas como já estava com fome perguntei se poderia almoçar. Mãe nessa hora disse: “só podemos comer depois que os patrões acabaram de almoçar”. Sem pensar duas vezes respondi na inocência e franqueza da infância: “uai, somos cachorros para só poder comer depois deles?”.