Na empresa em que você trabalha, a liderança já chamou a sua atenção na frente de outras pessoas? Sua liderança já passou dos limites na hora de cobrar alguma coisa e te expôs em reuniões presenciais ou online? Já passei por isso inúmeras vezes e a situação não é nada agradável, não é mesmo?
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O racismo é perpetuado em atitudes sutis do cotidianoComo as heranças da escravidão impactam nas relações de emprego atualmenteQual é a relação entre os jovens negros e negras e o mercado de trabalho?Como é ser uma pessoa negra e LGBTQIA no Brasil? Por que o mês do Orgulho LGBTQIA+ é em Junho?E, diante disso, sempre fico me perguntando o porquê algumas lideranças ainda adotam esse modelo de comunicação. Por que insistem em chamar a atenção dos colaboradores com um tom de voz mais elevado, brigando, xingando e ainda na frente de toda a empresa?
Outra coisa que penso muito é: quais os prejuízos que nascem dessa comunicação tóxica?
De cara, é possível dizer que essa postura acaba afastando os colaboradores. Por exemplo, o funcionário que poderia ter admiração e respeito pela liderança, passa a ter medo, receio e, em bom português, passa a ter ranço dessa chefia. Em alguns casos, chega ao ponto de alguns colaboradores e colaboradoras terem pesadelo com a liderança cobrando coisas aos berros. Confesso que esses pesadelos já foram rotina na minha vida por um longo tempo.
E quando essa pessoa chega nesse estágio, ela não tem prazer de trabalhar nessa empresa, não tem orgulho de fazer parte do quadro de funcionários e tudo que quer de verdade é sair e conseguir outro trabalho na esperança de não conviver com essa liderança tóxica.
Aí eu pergunto: um colaborador que vive essa experiência consegue demonstrar todo o seu potencial? Ele consegue alcançar níveis bons de produtividade? Com certeza não!
Em muitos casos esse talento, que poderia trazer mais valor, criatividade, inovação e mais produtividade acaba deixando a empresa. Ou seja, lideranças que não sabem se comunicar, que não sabem promover um ambiente de trabalho mais acolhedor também contribuem para o aumento do chamado índice de turnover (alta rotatividade de colaboradores na empresa).
E por conta disso, por diversas vezes, a empresa precisa abrir processos seletivos que demandam tempo, gasto de energia e também de grana. E qual empresa deseja passar por isso tantas vezes?
Assédio moral prejudica a autoestima dos colaboradores e tenta reduzir a dignidade dos mesmos, torna o ambiente de trabalho pesado e inseguro, o que acaba impactando na produtividade e nos índices de turnover. Prejuízos e mais prejuízos que nascem dessa postura de xingamentos, exposições e humilhações promovidas pela liderança.
Diante disso, mais uma vez eu pergunto: porque muitas lideranças ainda adotam essa comunicação tóxica ao chamar atenção de seus colaboradores e colaboradoras na frente de toda a empresa?
Talvez você já escutou a seguinte “justificativa” de algumas lideranças: “só fiz isso para ajudar, os colaboradores precisam aprender a forma certa de fazer as coisas” ou, “só falei nesse tom porque não quero que a equipe erre de novo, minha intenção é boa, só quero o crescimento profissional do time”. Ou seja, teoricamente a intenção da liderança é “ensinar”, mas na prática não é bem assim.
Me responda com sinceridade. O que fica mais forte na memória de quem foi exposto na frente de todas as pessoas na empresa: o suposto “ensinamento” que a liderança queria passar ou a dor da humilhação de ser chamando atenção diante de toda a equipe?
Outra pergunta: essa liderança quer ensinar mesmo ou só ter o prazer de mostrar quem manda de verdade?
“Mas Arthur, lideranças também são pessoas, cometem erros e vez ou outra acabam elevando o tom”. Sim, mas isso não pode ser usado como desculpa para não se comprometerem em buscar informação e capacitação para oferecer uma gestão mais humanizada. Ou seja, uma liderança que, além de conhecimentos técnicos e teóricos, também saber ter uma escuta atenta e saber ler contextos, entre outros.
Existem diferentes maneiras mais nutritivas e saudáveis de dar um feedback no ambiente de trabalho. Então o modelo de liderança que tem como base a frase “manda quem pode, obedece quem tem juízo” não cola mais!
Outra coisa, talvez você pode tá pensando: “mas o Arthur Bugre escreve é sobre diversidade e inclusão. Porque ele está falando sobre liderança e gestão humanizada?”.
Me responda: quais são os perfis de pessoas que mais são expostas, humilhadas e são mais chamadas atenção de frente de todos na empresa?