Jornal Estado de Minas

PODER DE DECISÃO

Um convite para quem tem o poder de assinar no final


Nos últimos anos,  a discussão sobre diversidade e inclusão (D&I), vem ganhando força e espaço no Brasil. Ainda é necessário avançar muito, mas, nessa caminhada, algumas empresas têm assumido papéis e investido nesse importante assunto.




 
Algumas, por meio de RH e comitês de afinidade, já iniciaram programas que visam promover o respeito à pluralidade de diferentes formas. Mas infezlimente, em muitas dessas instituições as “piadas”, "brincadeiras", falas e expressões racistas, gordofóbicas, homofobicas, capacitistas ou outras situações de preconceito e discriminação, são promovidas sobretudo por quem deveria dar o exemplo. 
 
Tenho certeza que você já presenciou no ambiente de trabalho falas e atitudes preconceituosas e discriminatórias vindas de lideranças, não é mesmo? Mas por que isso ainda é tão frequente? Para responder essa pergunta é necessário primeiro analisar alguns pontos. 
 
Você já observou como são compostas as lideranças na maioria das empresas no Brasil? Com qual frequência você vê pessoas com deficiência ou negras ocupando esses cargos?  Na maioria das vezes, qual é o perfil de quem ocupa essas funções? Homens, heteros, brancos e cis, não é mesmo? Por que isso acontece há séculos? 
 
Quando faço essa provocação, estou falando da soma perversa que infelizmente está nas entranhas do Brasil: o racismo, o machismo, a homofobia e transfobia, entre outros preconceitos e discriminações estão impregnados nas estruturas do país há séculos. 




 
Só para você ter uma ideia, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD contínua) 2019, o número de mulheres no Brasil é superior ao de homens. A população brasileira é composta por 48,2% de homens e 51,8% de mulheres. Além disso, o número de mulheres em cargos de liderança no Brasil caiu.
 
Segundo o estudo "Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil", do IBGE, elas ocupam 37,4% dos cargos gerenciais - percentual inferior ao registrado na edição anterior da mesma pesquisa, quando elas ocupavam 39,1% desses postos de trabalho.
 
Outro exemplo é que, por conta do racismo estrutural, desde muito cedo no imaginário as pessoas recebem estímulos que fortalecem a ideia que a pele branca é o tom correto, natural e belo, em detrimento de outros tons de pele.




 
E esse racismo também se manifesta no universo corporativo de diferentes formas. Segundo o IBGE, nas empresas brasileiras, menos de 30% desses cargos são ocupados por pessoas negras.
 
E diante desses e outros perconceitos e dicriminações, durante décadas, muitas empresas só ofereceram oportunidades para ocupar cagos de liderança para pessoas que se encaixam nesse perfil: homens, brancos, hétero e cis.
 
Além disso,  infelizmente, para muitas pessoas que assinam no final e tem um poder crucial para mudar essa situação, chega ser uma ofensa falar sobre representatividade e pluralidade. Para elas, diversidade e inclusão é uma “grande bobagem”, perda de tempo ou é uma tentativa de reduzir o direito de quem há décadas já ocupa esses cargos. 
 
Essa postura além de ser absurda, também enfraquece qualquer ação para fortalecer a diversidade e inclusão. 

Em um outro artigo já apontei: dentro de uma empresa o RH ou comitês de afinidades podem até ter intencionalidade de investir na construção de uma ambiente de trabalho mais diverso e seguro para todas as pessoas. Em alguns casos, podem até tirar algumas ações isoladas do papel.




 
Mas se a alta liderança não apresentar comprometimento, toda ação é enfraquecida. Até porque é ela que toma as decisões, ela é o principal rosto que representa a instituição e também que dá o tom de como a empresa vai se relacionar na prática com D&I. 

Quem assina no final precisa ter real consciência da importância e valor da pluralidade, precisa de fato respeitar as diversidades. Mas para isso essa pessoa precisa revisitar seus vieses inconscientes, se abrir para iniciar um processo de autoconhecimento.
 
É necessário sair das bolhas e não só compreender o que são estruturas de poder, racismo estrutural, machismo, entre outros. Mas, também tomar consciência dos males e prejuízos que nascem dos preconceitos e discriminações.  
 
Faço um convite para as altas lideranças: bora participar de palestras, rodas de conversas sobre diversidade e inclusão. Bora ter compromisso de ler, pesquisar e ir a fundo para encontrar realidades que são as suas.