Pela primeira vez, uma pesquisa do IBGE tentou mapear a orientação sexual dos brasileiros. O levantamento inédito, divulgado em maio de 2022, apontou que 2,9 milhões de pessoas se auto-identificam como homossexuais ou bissexuais no país. A divulgação desse levantamento ocorreu após o IBGE ter sido acionado na Justiça pelo Ministério Público Federal (MPF). O órgão questionou o fato de o Censo Demográfico de 2022 não ter incluído perguntas sobre a população LGBTQIA+.
Só para você ter ideia, em 2019, durante a produção de uma reportagem especial, fiz as seguintes perguntas para as pastas encarregadas da área de direitos humanos no município de Belo Horizonte, governo de Minas Gerais e governo federal: qual é a estimativa de quantas pessoas trans existem no país? Quais são as principais demandas dessa comunidade? Existem algumas políticas públicas, programas ou projetos voltados para as pessoas trans?
E, na época, a resposta das três esferas governamentais foi muito parecidas: “Ainda não sabemos quantas pessoas trans existem em nosso território e ainda não criamos políticas públicas voltadas exclusivamente para a comunidade trans”.
Há alguns dias, fui contratado para realizar uma palestra sobre Diversidade e Inclusão e no final do evento uma pessoa perguntou: “Arthur, é necessário criar mais políticas públicas para atender a comunidade LGBTQIA ?”.
Respondi que sim, mas como é possível criar políticas públicas eficazes se ainda existem pouquíssimos dados oficiais sobre essa população? Por exemplo, como é a relação entre as pessoas LGBTQIA e o acesso à saúde, segurança, à moradia, educação e trabalho? Quais são os principais entraves, desigualdades e expulsões sociais que impactam as vivências dessas pessoas? Cadê os dados oficiais sobre essas questões? É como se nós não existíssemos oficialmente. Um verdadeiro apagamento oficial.
Nós existimos!