Jornal Estado de Minas

SETEMBRO AMARELO

Como o racismo afeta a saúde mental da comunidade negra?

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis

Há muitos anos fiz o seguinte questionamento na redação: como o racismo afeta o psicológico da comunidade negra? Na época o assunto não rendeu, sobretudo pela dificuldade de falar abertamente sobre o tema por conta do racismo institucional. Nos últimos anos, pesquisas e relatórios sobre a relação entre o racismo e a saúde mental da população negra ganharam mais força, espaço e visibilidade. 




 
E para entender melhor essa relação é importante ter a informação e consciência do que foi as atrocidades promovidas durante a escravidão no Brasil. Só para você ter uma ideia, o tráfico negreiro por aqui começou por volta de 1535.

Então, por mais de 300 anos diferentes violencias, abusos, tortura e a falta de empatia feriram, adoeceram, separaram famílias, mataram e destruíram a dignidade e a alma de milhões de pessoas negras que aqui foram escravizadas nesse período. Imagine a dor e desespero! Alguns historiadores apontam que o índice de “mortes voluntárias” entre os escravizados, era duas ou três vezes mais elevado que entre os homens livres.
 
Infelizmente, mesmo depois de mais de 130 anos do fim da escravidão, toda essa estrutura racista ainda reverbera em nossos dias. Vemos isso na negação de direitos para a comunidade negra como a falta de acesso à saúde, segurança, moradia, trabalho, justiça, direito de ir e vir, direito à educação, entre outros serviços. Sem falar no Estado que é omisso quanto às violências e excessos promovidos pela polícia contra a comunidade negra. 




 
Além disso, o racismo também é cínico! Só para você ter uma ideia de acordo com uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), que foi citada no livro "Racismo no Brasil", da coleção "Folha Explica", 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito, mas 98% disseram conhecer pessoas que manifestavam algum tipo de discriminação racial. De acordo com a antropóloga Kabengele Munanga, o racismo é o crime perfeito: produz vítimas, mas não existem autores.
 
Sabe a “brincadeirinha inocente” racista ou a “piada só pra descontrair” que sempre tenta reduzir pessoas negras, de engraçadas não tem nada. Esse racismo do dia a dia também é uma forma de violência que muitas vezes se esconde por trás do cinismo.
 
Ai eu te pergunto: Como fica nossa saúde mental no meio de tudo isso? Com certeza muito fragilizada e exausta. Ou seja, o racismo pode ser um dos motivos que potencializam: 
  • ansiedade;
  • baixa autoestima;
  • fobias;
  • estresse;
  • depressão;
  • efeitos no sono.




Sem falar nos sentimentos de não pertencimento, inferioridade, de vergonha, insegurança, culpa, medo, angústia, inadequação, síndrome do impostor, entre outros. E tudo isso pode aumentar o comportamento de risco. 
 
O Brasil é o país com maior índice de ansiedade no mundo e o segundo nas Américas em relação ao índice de depressão. E, claro, as diferentes manifestações do racismo estrutural influenciam essa triste colocação do país. Só para você ter uma ideia, uma pesquisa do Ministério da Saúde em parceria com a Universidade de Brasília (UNB), divulgada em 2019, revelou que jovens negros do sexo masculino entre 10 e 29 anos são os que possuem o maior risco cometer suicídio. A probabilidade de autoextermínio nesse grupo é 45% maior do que entre jovens brancos na mesma faixa etária. 
 
Hoje é o segundo dia do Setembro Amarelo e como fiz no ano passado, quero ressaltar a urgência da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, criada em 2009,  que leva em conta a saúde mental da comunidade negra. É necessário saber ler os contextos das desigualdades, preconceitos e discriminações históricas e como isso afeta sobretudo o  sofrimento psíquico da comunidade negra. Diante de dados tão alarmantes, já passou da hora do suicídio entre os jovens negros no Brasil ser encarado como questão de saúde publica na prática. 
 
E se você é uma pessoa negra que precisa de atendimento psicológico ou psiquiátrico, mas no momento não tem condição de pagar uma consulta, tenho a indicação de uma lista de profissionais que atendem de graça ou com um valor acessível. É só me procurar nas minhas redes sociais (@arthurbugre).
 
Além disso, no Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza trabalho de escuta e acolhimento das pessoas em sofrimento, pelo site e pelo telefone 188.