Jornal Estado de Minas

CONVITE INDECENTE

'Arthur, você pode realizar uma palestra gratuita na minha empresa?'

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“Arthur, quero levar sua palestra para minha empresa, mas não temos orçamento para te pagar, tudo bem?”, “nossa empresa é muito comprometida com a diversidade e inclusão, por isso quero te convidar para palestrar aqui, mas não temos verba para te pagar. Mas, em contrapartida, a empresa está dando espaço para um assunto tão importante e você pode também ter mais visibilidade, o que acha, Arthur?”. 





Escuto frases semelhantes a essas desde 2017, quando iniciei meu trabalho com diversidade e inclusão. E mesmo depois de tanta dedicação, leitura, estudos, cursos, prática e até uma pós-graduação,  ainda escuto essas frases com frequência.

Infelizmente, além de muitas empresas acreditarem que investir em diversidade, equidade e inclusão (DE&I), é só oferecer uma palestra no ano sobre o assunto, muitas delas também acreditam que a pessoa que vai conduzir a palestra não precisa ser paga. 

Mas por que isso ainda é tão frequente? 

Por ser um dos caminhos para a promoção da justiça social e ao combate de vulnerabilidades que grupos minoritários enfrentam, algumas empresas, erroneamente, acreditam que o “investimento” em DE&I  é um ato de caridade e que estão fazendo um favor para a sociedade ao abrir as portas para uma palestra sobre o assunto.





Diante disso, pensam: "antigamente, a empresa nunca abriu essa porta, então já estou fazendo muito ao dar espaço para trazer esse tema. Não preciso pagar o palestrante, ele deve ficar honrado em vir falar aqui”. 

O que essas empresas fazem questão de ignorar são suas responsabilidades sociais, o que incluem investimentos reais em diversidade e inclusão. E esse investimento tem uma importância gigantesca! Por meio da promoção da justiça social, pessoas que fazem parte de grupos minorizados passam não só a ter acesso a um trabalho digno, mas também têm acesso à equidade de salário, a um ambiente de trabalho acolhedor,  seguro e que oferece oportunidade de crescimento na carreira. 
 
Diversidade e inclusão é sobre pessoas e mudança de perspectiva. Tomar consciência da importância da pluralidade e do acolhimento e partir para ação.
 
Além disso, é muito importante ressaltar: investir em diversidade e inclusão não é esmola, nem filantropia, não é um processo de caridade, e eu posso provar!
 
Uma empresa que é dinâmica, criativa e inovadora está a mil anos luz à frente das demais. E, quando falo em inovação, não estou me referindo apenas a inovações tecnológicas, mas também na construção de fluxo de trabalho mais eficiente, no relacionamento humanizado com sua clientela, nas diferentes maneiras de desenvolver produtos, serviços e na elaboração criativa de soluções para as dores do seu público-alvo, entre outros. 





Já existem diferentes pesquisas, algumas até promovidas internamente pelas próprias empresas, que mostram que, por anos, majoritariamente o perfil das pessoas contratadas moram em regiões com maior poder aquisitivo, como a Centro-Sul em BH.

Só para você ter uma ideia, uma pesquisa da Harvard Business revela que, em empresas nas quais o ambiente de diversidade é reconhecido, os funcionários estão 17% mais engajados e dispostos a irem além das suas responsabilidades. Ainda segundo a pesquisa, nas empresas onde a diversidade é reconhecida e praticada, a existência de conflitos chega a ser 50% menor que nas demais organizações.

Além disso, o relatório “A diversidade como alavanca de performance”, da  consultoria McKinsey&Company, mostrou que empresas que investem em diversidade de gênero em suas equipes executivas, por exemplo, são 21% mais propensas a ter lucratividade acima da média do que as empresas que não investem em diversidade. Com relação à diversidade étnica e cultural, os dados indicavam 35% de probabilidade de desempenho superior. 





Ou seja, investimento em diversidade, equidade e inclusão NÃO É CARIDADE! 

Além disso, os convites indecentes para palestras, treinamentos e eventos sobre DE&I, sem que haja pagamento dos profissionais envolvidos,  são demonstrações de como algumas empresas tratam o assunto como algo sem importância, algo pequeno. Na prática, essas organizações demonstram que não têm compromisso com o assunto.

E se você observar bem, esses convites indecentes também são formas de não valorizar os profissionais de DE&I. Pensei aqui comigo, quem são esses e essas profissionais? São pessoas que fazem parte de grupos minorizados, ou seja,  mulheres, LGBTQIA+, comunidade negra, PCDs, entre outros. Mesmo tendo um grande investimento em estudos, leituras, práticas e cursos, sem falar na disposição de compartilhar um pouco das suas vivências, essas pessoas são vista por muitas empresas como “profissionais de segunda classe”. Para muitas organizações elas não merecem ser pagas dignamente para compartilhar seus conhecimentos e vivências. 

Vamos lá: quando uma pessoa que é especialista em educação financeira ou especialista em vendas, por exemplo, vai realizar uma palestra, essa pessoa precisa ser remunerada por esse serviço, com um valor digno, que valorize seu trabalho. Correto?





Mas por que isso na prática não vale para profissionais de DE&I? 

Além disso, já escutei frases como essa: “mas você vai cobrar mesmo? Você deveria falar sobre diversidade e inclusão por amor, e não ficar aí cobrando”. 

Diversidade e inclusão é sobre pessoas e mudança de perspectiva. Tomar consciência da importância da pluralidade e do acolhimento e partir para ação. Então é sim um trabalho que gera muito impacto social, um trabalho que necessita muita dedicação, leitura, prática, sensibilidade, escuta, leitura de contexto, conscientização e humanidade!

Mas não se esqueça, os profissionais de DE&I também são profissionais. Pessoas que precisam pagar as contas, que têm sonhos e responsabilidades. Profissionais que também precisam ser valorizados e pagos dignamente. 

Se você quer entender mais sobre esse assunto, acesse o vídeo que produzi sobre. Só clicar AQUI