Meu primeiro estágio em jornalismo foi em 2008. E nesses 15 anos de profissão, nunca tive uma liderança trans ou travesti.
Nem mesmo quando se trata do campo da Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I), essa realidade é diferente. Trabalho como palestrante nessa área desde 2017, até o momento nunca tive contato com uma empresa onde a população trans e travesti tivesse representação na liderança dessas organizações.
Só para você ter uma ideia, segundo a pesquisa Diversidade e Inclusão, realizada pela consultoria global Great Place To Work (GPTW), 92% das pessoas que ocupam cargos de chefia, direção e presidência são pessoas cis heteronormativas. Além disso, no recorte de funcionários em cargos de liderança, apenas 8% são LGBTI+. Já no caso de cargos de presidência, só 6% se autodeclaram LGBTI .
Essa ausência é fruto da transfobia que está em todas as estruturas do país e que se manifesta de diferentes maneiras criando barreiras e negando postos de lideranças para corpos e vivências trans e travestis. Isso é tão enraizado na sociedade brasileira que está no imaginário popular.
Quer um exemplo? Imagine uma pessoa que ocupa um alto cargo de liderança de uma grande empresa. Essa pessoa é muito competente, sagaz, inteligente e uma ótima liderança. Agora me diga, quais eram as características que você imaginou dessa pessoa? Tenho certeza que muitas pessoas imaginaram uma homem, branco, hetero, cis, alto, com queixo quadrado no estilo do superman.
E digo mais, para muitas pessoas imaginar uma travesti ocupando um cargo de liderança em uma grande empresa pode ser motivo de “piada” ou até de revolta.
Ou seja, a transfobia também está impregnada no imaginário popular. O que fortalece ainda mais as dificuldades que essa população enfrenta para conquistar uma vaga de emprego, que dirá um cargo de liderança.