Nesta semana, circulou na internet um vídeo em que um aluno do Centro de Ensino Médio (CEM) 9 de Ceilândia, de Brasília, "presenteia" uma professora negra com uma esponja de aço. Essa situação aconteceu no Dia da Mulher e o aluno entregou o "presente" dizendo ser em homenagem à data. Sob risos de alguns colegas, ele entregou a sacola enquanto era filmado pelos estudantes. A Polícia Civil investiga o caso.
Em entrevista ao portal G1, a secretária de Educação do DF, Hélvia Paranaguá, disse: "Quando eu vi que o presente era pelo dia da mulher, a minha primeira associação é que ele [o aluno] queria dizer que ela não deveria estar dando aula, e sim em casa lavando panela [machismo]. Mas depois dos comentários dos alunos, pensei que poderia ser racismo pelo fato do cabelo dela".
Infelizmente, esse caso não é exceção no Brasil. Só para você ter uma ideia, pesquisa do Datafolha sobre preconceito no ambiente educacional encomendada pela Associação Mulheres Pela Paz mostrou que ao menos um em cada cinco professores negros da rede pública paulista diz já ter sofrido discriminação racial.
Ainda segundo a pesquisa do Datafolha, o racismo e a gordofobia são também os atos discriminatórios que mais docentes relatam ver sempre nas escolas, 25% e 23%, respectivamente. Em seguida, vem a homofobia (19%). De acordo com o estudo, mais da metade dos profissionais de educação entrevistados (53%) relatam saber de algum aluno que já deixou a escola em decorrência disso, e 42% afirmam que o mesmo já aconteceu com um colega professor.
Vale ressaltar que, do total de entrevistados, 39% afirmam que nunca participaram de uma formação/treinamento voltada a como lidar com atos discriminatórios em sala de aula.
O levantamento ouviu 285 docentes de ensino fundamental de 15 municípios do estado de São Paulo entre os dias 26 de julho e 18 de agosto de 2021.
Acompanhando a repercussão do caso que citei no início desse artigo sobre a professora negra que recebeu uma esponja de aço de um estudante na sala de aula, vi diversos comentários como: “mas o aluno não teve a intenção de ser racista, ele foi, sim, machista, mas racista não”. Como se “só ser machista” fosse justificável.
Além disso, não importa se essa atitude foi de forma consciente ou inconsciente. Entenda: só o fato de dar de “presente” uma esponja de aço para uma professora negra e usar o tom de humor para “aliviar” a situação já se configura como racismo recreativo. Outra coisa, só o fato desse jovem não “entender” de cara a gravidade da situação diz muito sobre a carência das escolas no Brasil em relação a uma educação antirracista.
E quando falo sobre educação antirracista, não estou falando apenas com foco nas alunos, mas também entre os profissionais da educação. Até porque muitos profissionais negros do setor já foram alvo de racismo produzido por colegas de trabalho e até de superiores.
É muito importante ter consciência de que nem mesmo ambientes educacionais são locais de trabalho imunes ao racismo no Brasil. Além disso, é importante ressaltar que o racismo institucional se manifesta de diferentes formas. Sendo assim, muitos profissionais da educação negros e negras infelizmente já viram diferentes fases do racismo no ambiente de trabalho.
Como especialista em diversidade e inclusão, no início deste mês tive a oportunidade incrível de falar sobre educação antirracista e compartilhar o conceito de Ilhas de Acolhimento durante palestra com profissionais da educação da Secretaria Municipal de Educação de Seabra/BA. Falamos abertamente de maneiras práticas de combater o racismo dentro de ambientes educacionais.
Como a sua escola tem lutado contra o racismo? Os profissionais negros e negras são respeitados, valorizados e têm oportunidades de crescimento? Onde estão os profissionais negros na sua escola? Existe invesimento para levar palestras e treinamentos sobre a educação antirracista na prática?
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Quer conversar mais sobre diversidade e inclusão? Meu nome é Arthur Bugre, sou homem negro retinto, trans e neurodiverso. Também sou jornalista e palestrante sobre Diversidade e Inclusão por meio da Bugre: Diversidade e Inclusão.
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