Jornal Estado de Minas

COLUNA

"O clube do bolinha" nos corredores das empresas

Que o Brasil precisa avançar muito em Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I), não resta dúvidas. Mas principalmente a partir de 2020, algumas empresas passaram a olhar com mais atenção para DE&I (algumas investindo menos, outras investido mais). E com isso, felizmente, surgiram mais canais de denúncia e mais fiscalização. 





Por exemplo, atualmente de forma oficial, algumas empresas incluíram no Código de Conduta Ética da instituição tolerância zero para falas e comportamentos machistas, racistas, homofóbicos, capacitistas ou transfóbicos, entre outros. Ação necessária e que colabora diretamente no enfrentamento de preconceitos, discriminações e discurso de ódio dentro do universo corporativo. 



Mas infelizmente, diante dessa política, é possível observar que falas e comportamentos preconceituosos só foram reduzidos durante "momentos oficiais", como em reuniões. Ou seja, foi reduzido apenas em momentos em que haveria uma maior fiscalização e, consequentemente, mais chances de penalidades. 

Em ambientes como corredores, refeitórios e grupos de Whatsapp não oficiais de algumas empresas, rola solto os discursos de ódio, falas preconceituosas e discriminatórias. 

Um exemplo nítido disso é o famoso "clube do bolinha" que ainda existe em algumas empresas. Essa  expressão popular é usada para descrever um tipo de clube, grupo ou reunião onde só homens (nesse caso cis), podem participar.  Esse grupo pode ser constituído tanto por lideranças de diferentes níveis quanto por colaboradores. 





Já falei sobre isso aqui, mas usando outro exemplo: com frequência, quando entro em um uber e o motorista me lê como um homem cis, a sensação que tenho é que entro um em mundo particular, um mundo onde mulheres e pessoas LGBTQIAP+ não valem nada e são motivo piada, ofensas e désdem. Infelizmente, em determinados ambientes corporativos (fisicos ou virtuais), alguns homens cis ("o clube do bolinha"), quando estão entre os "seus", também se sentem confortáveis e autorizados a serem machistas e LGBTfóbicos. 

Encontrar maneiras de desconstruir esses comportamentos no universo corporativo é extremamente importante! E para isso, quero destacar 3 ações que podem colaborar diretamente nisso: 

  • Lideranças - Me arrisco a dizer que muitas vezes quem alimenta e autoriza tais comportamentos machistas e LGBTfóbicos nas empresas são algumas lideranças. Aliás, muitas até fazem parte de um "clube do bolinha". Como é possível combater tais comportamentos se quem era para dar exemplo acaba legitimando tais atos?

  • Programa de Diversidade, Equidade e Inclusão - Não adianta realizar apenas uma palestra por ano para falar sobre machismo, LGBTfobia ou sobre DE&I em geral. Para mudar a consciência e ajudar na transformação de comportamento e a cultura da empresa, é necessário planejar e investir de fato em um programa de DE&I. Ou seja, ações bem elaboradas, contínuas e concretas durante todo o ano (planejamento de longo prazo). 

  • Código de Conduta Ética - Como já citei aqui, é muito importante criar canais de denúncia (inclusive anônimos) e também oficializar a tolerância zero da empresa diante de discursos de ódio, falas e comportamentos machistas, racistas, homofóbicas, transfobicas e capacitistas, entre outros.