No mês de julho deste ano, iniciativas propostas pela B3 e aprovadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) entraram em vigor. Estas medidas visam promover a diversidade de gênero e a inclusão de grupos sub-representados em posições de liderança de destaque, além de incentivar o relato de boas práticas nos âmbitos ambiental, social e de governança por parte das empresas listadas na Bolsa de Valores.
Ou seja, a partir deste momento em diante, as empresas brasileiras de capital aberto têm a responsabilidade de assegurar níveis mínimos de diversidade em seus conselhos (ainda que modestos em comparação com padrões internacionais).
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'Você trabalha aqui?': não deixe uma pessoa racista confortável''Não sabemos lidar com colaboradores trans, é melhor demitir''Quando a família vira as costasAs tragédias climáticas e o racismo ambientalEssas propostas fazem parte do Anexo ASG, também conhecido como "pratique ou explique". Sob esse enquadramento, as empresas são obrigadas a tornar suas ações para cumprir com essas diretrizes transparentes para o mercado ou justificar por que optaram por não fazê-lo. Tais informações devem ser incluídas no Formulário de Referência, um documento de divulgação anual obrigatório para todas as empresas de capital aberto. A primeira leva de relatórios deve ser iniciada a partir de 2025.
Desta forma, por exemplo, no que diz respeito à estrutura da equipe de liderança sênior, as empresas que já estão listadas na bolsa terão o prazo até 2025 para demonstrar a nomeação do primeiro membro – ou explicar as razões para não seguir essa prática – e até 2026 para o segundo membro.
Cenário atual de Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento (DEI&P) no mercado financeiro no Brasil
Um levantamento feito pela B3 com os dados de 343 companhias listadas que entregaram seus Formulários de Referência até o último dia 20 de junho deste ano, mostrou que 55% delas não têm nenhuma mulher entre seus diretores estatutários, e 36% não possuem participação feminina no conselho de administração. Em relação aos dados de raça e etnia, dessas 343 companhias, 304 declararam não ter nenhuma pessoa parda na diretoria estatuária, e 310 não têm nenhuma pessoa parda no conselho. A participação de pessoas pretas na alta liderança é ainda menor: elas não ocupam cargos de diretoria estatutária em 336 companhias e não estão nos conselhos de administração de 327 empresas.
- Confira: Quando a família vira as costas
Ou seja, é necessário avançar muito ainda! E o que é necessário para reverter esse cenário no mercado financeiro no Brasil? A pesquisa Diversidade e Inclusão nos Mercados Financeiro e de Capitais aponta alguns passos que as instituições financeiras podem adotar:
criação de programas de DEI&P - ou seja, entender de uma vez por todas que apenas contratar uma pessoa diversa ou realizar apenas uma palestra por ano não significa que a instituição tem compromisso real com a pauta. A criação e desenvolvimento de um programa de diversidade e inclusão necessita de investimento, grana mesmo, comprometimento, continuidade e tempo para realmente gerar impacto na cultura da instituição;
é necessário também definir as metas e indicadores. É muito importante definir as ações que vão nortear o programa de diversidade e inclusão;
definir as métricas - é muito importante definir quais as ferramentas vão mensurar os resultados e avanços;
oferecer palestras e rodas de conversa sobre DEI&P para todas as pessoas contratadas pela instituição financeira e levar letramento e conscientização para toda a empresa;
oferecer programas de mentoria para a liderança sobre o assunto;
criar ações de equidade;
a atração de candidatos mais diversos para processos seletivos;
repensar os critério de contratação e ampliar a contratação de profissionais
firmar parcerias com fornecedores que também investem de maneira prática em diversidade e inclusão;
é necessário olhar para a diversidade e inclusão de maneira integrada.