Jornal Estado de Minas

Bebel Soares, do Padecendo no Paraíso, agora é colunista do Estado de Minas

Sou Isabela, mas pode me chamar de Bebel. Sou mãe, esposa, arquiteta, dona de casa, empreendedora, feminista e muitas outras coisas.


Ninguém diz que ser mãe é uma tarefa fácil, mas a gente só tem noção da dimensão da coisa depois que tem filhos. Vivi os primeiros meses da maternidade com a certeza de que eu era capaz de ser uma boa mãe, uma boa esposa e uma boa profissional. Até que um dia eu acordei e me dei conta de que estava completamente errada!

Na ânsia de ser capaz de tudo, eu me perdi. De repente, tudo estava dando errado.

Fiz um post pedindo ajuda para as amigas que estavam passando pela mesma coisa. Assim, há quase uma década, criei, despretensiosamente, "Padecendo no Paraíso", um grupo de mães no Facebook.

A maternidade pode ser bem solitária. Naquele espaço, encontramos acolhimento e nossas vozes eram ouvidas. Inicialmente falávamos muito sobre gravidez, parto, amamentação, fraldas e tudo o que envolvia filhos pequenos e um universo que não ia muito além da porta de casa.


Com o passar dos anos, o grupo foi crescendo e as discussões foram se aprofundando. Amadurecemos como mães, passamos a sentir a necessidade de empoderamento. De discutir temas como inclusão, bullying, prevenção ao abuso sexual infantil, combate ao racismo, luto, depressão, feminismo, profissão, sustentabilidade e uma infinidade de assuntos relativos ao cotidiano das mães que querem criar filhos melhores para o mundo. E que querem ter espaço para aproveitar a vida, viajar com a família, sair com as amigas, pular carnaval.

O "Padecendo" foi meu filho não planejado. Deu uma reviravolta na minha vida. Me fez renunciar à arquitetura para me dedicar às pessoas. Me ensinou o significado de sororidade.

Todo mundo quer que o mundo mude, mas não quer mudar o que tem dentro de si. A mudança que vem de dentro é difícil, às vezes dolorosa, mas é recompensadora. O "Padecendo" te tira dessa zona de conforto. Aprendemos muito acompanhando as centenas de mães que compartilham conosco um pouco das suas vidas
 
Quase uma década depois, eu não sou a mesma pessoa que criou o grupo. Além de mudar a forma de me ver como mãe, mulher e profissional, passei por uma depressão em 2016 e por um câncer de mama no início deste ano. A partir de agora, vou dividir essas histórias e sentimentos com vocês, leitores.