Jornal Estado de Minas

BEBEL SOARES

Os que mais gritam que a fome vai matar são os que reclamavam de programas sociais

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A frase “um por todos e todos por um” nunca fez tanto sentido. Neste momento, o planeta respira e a humanidade se fecha em suas casas. Só assim seremos salvos. Só assim salvaremos quem precisa sair. Quem precisa cuidar dos enfermos e dos serviços essenciais. O trabalho é coletivo, não há espaço para individualismo.



A economia se recupera, lentamente, mas se recupera. Vidas são irrecuperáveis.

No domingo de Páscoa, Andrea Bocelli canta sozinho na Catedral de Milão. Uma voz ecoando em uma cidade vazia. Uma cidade que parou tarde demais e hoje chora seus mortos. Enquanto ele canta, imagens de outras cidades, igualmente desertas, são exibidas nas telas de milhares de espectadores que estão em casa. Nova York deserta, parou tarde de- mais. Paris, ninguém nas ruas...

Os mortos são muitos. Eles não são números. São pessoas com nome, sobrenome, família, amigos. Pessoas que não puderam nem se despedir.

Corpos nas ruas de Guayaquil.

Valas comuns sendo abertas em Nova York.

No meio do caos, exemplos de liderança no controle da transmissão do coronavírus vêm das mulheres. Mostrando ao mundo o protagonismo feminino em prol da sobrevivência e manutenção da humanidade. Priorizando vidas, países governados por mulheres têm gerenciado melhor a crise.



Tsai Ing-wen, presidente de Taiwan, usou medidas de contenção depois do primeiro caso na China notificado à OMS. Taiwan passou a investigar passageiros que vinham de Wuhan, todos os casos de febre e pneumonia eram colocados em quarentena.

Na Nova Zelândia, a primeira-ministra, Jacinda Ardern, iniciou cedo o lockdown, fez testes em massa e controlou a chegada de estrangeiros ao país. Jacinda é tão incrível que fez até post falando que os coelhos da Páscoa talvez estivessem muito ocupados, e que as crianças precisariam entender caso ele não conseguisse chegar às suas casas. Ela é aquela mãe que levou a filha de três meses para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 2018.

A Islândia, da primeira-ministra Katrín Jakobsdóttir, fechou fronteiras para turistas por 30 dias e testou em massa a população.

Sanna Marin, primeira-ministra da Finlândia, a chefe de Estado mais jovem do mundo, tem convidado influenciadores de mídia social para divulgar informações baseadas em fatos sobre a pandemia. A primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, usou a TV para conversar com as crianças do país, respondendo às suas perguntas e dizendo que tudo bem sentir medo.



Na Bélgica, Sophie Wilmès implantou medidas restritivas na primeira quinzena de março. Mette Frederiksen também adotou medidas restritivas na Dinamarca. E Angela Merkel não deixou a Alemanha passar pela fase da negação como aconteceu em países vizinhos. A Alemanha começou a realizar testes em massa, com isso a taxa de mortalidade no país é muito baixa.

Assim como a voz solitária de Andrea Bocelli abraça nossos corações, a empatia das líderes femininas também soa com um abraço acolhedor. Elas não estão culpando a China, nem a imprensa, não estão sendo autoritárias, não estão subestimando o vírus, no entanto as medidas que estão adotando estão sendo muito eficazes, os números comprovam.

No Brasil o aviso é dado repetidas vezes: fique em casa. Fique em casa por você e pelos seus. Fique em casa por quem não pode ficar.

É importante ficar em casa para achatar a curva de contágio e evitar o colapso nos sistemas de saúde e funerário.



Fique em casa porque nenhum médico quer precisar escolher em quem vai colocar um respirador, quem vai ter a chance de viver e quem não terá pela falta do equipamento.

Enquanto o mundo silencia, se isola e espera. Espera por uma vacina, um remédio comprovadamente eficaz, a música enche nossa alma. Precisamos esperar. A economia pode esperar. Mortos não consomem, não produzem, não abraçam. É preciso entender isso agora, e não quando for tarde demais.

O Brasil era o único país onde as pessoas saíam às ruas protestando contra o isolamento (esta semana, grupos nos EUA aderiram a essas manifestações). Gritam como se comemorassem cada vida que já foi perdida, e cada vida que, em breve, terá seu fim. Falta uma liderança que apazigue, que acolha, que busque soluções para a fome que já existia antes da pandemia, mas que agora grita.

E aqueles que mais gritam que a fome vai matar são aqueles que reclamavam de programas sociais. Deixando claro que jamais se preocuparam com a fome alheia.

Não é hora de egoísmo.



O vírus já rodou o planeta e continua circulando, não vai parar, mas nós precisamos fazê-lo circular mais devagar. É hora de parar.

Cada um que vai para a rua sem uma real necessidade está dizendo a todos nós: “Eu não me importo com você!”, “Eu não me importo com os profissionais da saúde”, “Eu não me importo com os profissionais da limpeza urbana ou com qualquer pessoa que esteja trabalhando para manter os serviços essenciais”, “Eu não me importo com os idosos”, “E eu não me importo com quem tem alguma doença crônica”. “Eu só me importo comigo mesmo”.

Não adianta, a Terra mandou parar. E quando ela nos deixar voltar a sair, nada será como antes.

#fiqueemcasa