Sempre ouvimos as pessoas falando que política não é assunto para mulher, e, muito menos, assunto para mães. Claro, é muito cômodo para os homens nos colocarem nesse lugar, aceitando o que é valor para eles.
Enquanto continuarmos a eleger homens, caberá a eles dizer o que somos e o que não somos! O que devemos ou não devemos fazer.
Eles sabem que, se não nos envolvemos nesses assuntos, seremos manipuladas com mais facilidade. E assim continuaremos tendo homens brancos ditando as regras.
“Acho um absurdo falar de política em grupos de mães.”
“Política não tem nada a ver com maternidade!”
“Eu não sou direita, nem esquerda nem centro.”
As pessoas confundem coordenadas políticas com partidarismo. É preciso esclarecer, inicialmente, que você pode ser liberal, conservador, de direita, de esquerda, de centro, sem se identificar com um partido. Especialmente aqui no Brasil. E é por isso que mãe precisa de espaço para falar de política. Para aprender. Para entender. Para saber se posicionar.
O diálogo entre direita e esquerda é fundamental. Ninguém precisa concordar, mas também não há motivos para o ódio. A polarização é desastrosa.
Não preciso repetir que o número de mulheres na política no Brasil é muito baixo, todo mundo já está cansado de saber disso. Representamos 53% do eleitorado brasileiro. Conforme o Mapa Mulheres na Política 2019, o Brasil ocupa a posição 134 entre 193 países pesquisados, com 15% de participação de mulheres.
Política se discute, porque opiniões são mutáveis, pelo menos a de pessoas inteligentes como nós somos. E, como pessoas racionais, não nos cabem paixões por políticos. Precisamos parar de vê-los como ídolos ou salvadores da pátria e entender que eles são humanos e são nossos funcionários, foram eleitos para trabalhar para o povo.
Há um livro que tenho recomendado a todas as mulheres, e que os homens também deveriam ler. Entender um pouco do nosso passado ajuda a mudar o presente e a construir um futuro melhor.
Calibã e a bruxa, de Silvia Federici, é muito impactante:
“...A caça às bruxas destruiu todo um universo de práticas femininas, de relações coletivas e de sistemas de conhecimento que haviam sido a base do poder das mulheres na Europa pré-capitalista, assim como a condição necessária para sua resistência e luta contra o feudalismo.
A partir dessa derrota, surgiu um novo modelo de feminilidade: a mulher e esposa ideal – passiva, obediente, parcimoniosa, casta, de poucas palavras e sempre ocupada com suas tarefas. Esta mudança começou no final do século 17, depois de as mulheres terem sido submetidas a mais de dois séculos de terrorismo de Estado.”
O que mais me impressiona nessa passagem é que, ainda hoje, em pleno século 21, os homens, e muitas mulheres, ainda valorizem essa mulher passiva, obediente, de poucas palavras. Como esse trabalho foi bem-feito! Até hoje, muitas mulheres não querem ter poder de decisão. Sujeitam-se a relacionamentos abusivos. Deixam os homens escolherem por elas. O patriarcado nos oprime.
Nos tornamos carrascas de nós mesmas. Nos boicotamos, nos cobramos, nos agredimos, nos julgamos, quando deveríamos nos unir pelo coletivo. Por uma sociedade mais justa, mais inclusiva, e menos desigual onde todos tivéssemos o mesmo valor.
Choca-me ver que, depois de tantas conquistas femininas no século 20, insistem em andar para trás e resgatar conceitos opressores. E isso vai muito além de política, tem relação com direitos adquiridos.
Viver é um ato político. A maternidade é um ato político. E nós só iremos construir um mundo onde as vidas têm o mesmo valor quando entendermos isso e nos fortalecer como mu- lheres. Fortalecer nossas relações. As práticas femininas. Reaprender a dar valor às nossas irmãs.
As lideranças femininas são muito mais coletivas. Juntas somos uma potência e isso gera medo. Medo de mudança, como se mudança fosse algo ruim. Lembrando que as lideranças femininas não excluem os homens, pelo contrário, esse coletivo inclui todas as pessoas.
Mães sabem cuidar, sabem se doar, sabem gerir, por isso precisamos voltar a ter posições de liderança no mundo com uma posição dominante na família e na comunidade. Quando uma mãe tem voz, ela dá voz a outras pessoas.
Quando uma mulher conhece seus direitos, quando ela entende que pode e deve fazer suas próprias escolhas, ela não renuncia a isso.
E quando ela tem essa consciência, ela não apoia projetos de ditadores, porque ela não quer ser representada por alguém que a considera inferior e que limita e tolhe suas escolhas.