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Estado de Minas PAPEL DE MÃE

É preciso ir muito além da escola para criar um ser humano

'Maternidade pode te ajudar a amadurecer, a sair daquela caixinha onde nos colocaram e abrir o mundo para nossos filhos'


postado em 30/05/2020 04:00 / atualizado em 30/05/2020 07:41

(foto: Depositphotos )
(foto: Depositphotos )

Confesso que, quando tinha 33 anos e decidi engravidar, eu via a maternidade de forma superficial. Imaginava- me com um bebê no colo amamentando. Imaginava cenas de comercial de margarina. Achava que bastava dar amor, boa alimentação e ter dinheiro para pagar boas escolas e cursos e preparar aquele ser para a vida adulta. Que inocente eu era!

 

É preciso ir muito além da escola para criar um ser humano. É preciso ensinar a ser gente. É preciso ensinar a ter empatia. É preciso ensinar a enxergar além do próprio umbigo, ensinar a ter maturidade.

 

Quando estava grávida, queria ter um menino, eu e meu marido havíamos decidido ter um filho só; se pudesse escolher, eu teria menino, ele teria menina. Eu preferia menino porque acreditava que homens têm menos obstáculos na vida, as coisas são mais fáceis para eles. Meu marido preferia menina porque achava que mulheres são mais presentes na vida dos pais depois de adultas.

 

Se você fosse nascer amanhã e se pudesse escolher, como você seria?

 

Você seria homem ou mulher?

 

Seria preto ou branco?

 

Seria rico ou pobre?

 

Você teria alguma deficiência?

 

Você seria hétero ou homossexual?

 

Você seria cis ou trans?

 

Feche os olhos e imagine...

 

Se você é homem, branco, hétero, cis, sem deficiência e rico, você escolheria nascer mulher, ou preto, ou pobre, ou deficiente, ou homossexual ou transgênero?

 

Conhecendo o nosso país e sabendo como as pessoas vivem aqui hoje, com toda essa desigualdade, você gostaria de ser uma mulher negra e pobre?

 

Você gostaria de ter uma deficiência? Você gostaria de ser gay? Pobre?

 

Todo mundo sabe o que é ser mulher, ser preto, ser pobre, ser gay, ser deficiente no Brasil. A solução para isso não é uma política eugenista, e sim políticas que garantam a equidade entre os cidadãos do país.

 

Outro dia vi, este questionamento no Twitter:

 

“Os seus avós fizeram faculdade? Os seus pais fizeram faculdade? Você fez faculdade?”.

 

Li vários comentários que mencionavam avós analfabetos, pais sem ensino médio e filhos com curso superior, pós-graduação, mestrado. Em um momento recente da nossa história, essas pessoas, que sempre foram excluídas, conseguiram ter acesso à educação.

 

Como disse minha amiga Flávia Vianna:

 

“Sempre ressaltamos aqui no grupo que o que pode mudar o mundo não são armas ou discussões acaloradas: é a educação. Viver com dignidade, com acesso à educação de qualidade, segurança e comida na mesa devia ser um direito de todo cidadão brasileiro, mas infelizmente não é essa a realidade. E, honestamente, acho que a tendência é piorar.

 

Vejo o governo atual e todo o seu descaso com a educação. Desmerecem as universidades federais, bolsas Capes foram cortadas, não há incentivo à pesquisa. Além disso, existe todo um debate sobre a desvalorização dos professores e o descaso com a educação municipal e estadual”.

 

Quando penso nisso tudo, vejo que o papel de mãe vai muito além de olhar para o próprio filho e querer que ele tenha sucesso e felicidade. Papel de mãe é criar filhos melhores, é transformar o mundo, é entender que os filhos das outras mães também merecem o me- lhor. É saber dividir e se doar, e ajudar as pessoas que têm menos a ter mais oportunidades, para que possamos crescer juntos.

 

A maternidade pode ajudar você a amadurecer, a sair daquela caixinha onde nos colocaram e abrir o mudo para nossos filhos, para que eles sejam pessoas melhores e corrijam os erros da nossa geração e das gerações passadas. Um mundo mais justo, com menos desigualdade, será um mundo muito melhor para nossos filhos viverem.

 

Papel de mãe é plantar sonhos para colher felicidade. Papel de mãe é acreditar num mundo melhor. Papel de mãe é mostrar para os filhos que o planeta é um só e estamos todos conectados. Papel de mãe é ir além do que se espera.

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