Nos últimos dias, muitas pessoas têm me indicado o documentário O dilema das redes. Assisti quando recebi a primeira indicação. Trabalho com mídias sociais há 10 anos e senti na pele os efeitos nocivos dos algoritmos. É assustador ver como todos somos manipulados pelas redes sociais. Não é de hoje que eu procuro ter uma postura crítica em relação às interações.
Passei quase 10 anos moderando um grupo de mães chamado Padecendo no Paraíso no Facebook. Em junho, o grupo tinha mais de 10 mil membros e eu decidi arquivá-lo. Mantive a página e os outros canais.
A atitude pareceu uma loucura para uns. Outros acharam que era uma pausa temporária. E há quem acredite que não foi uma decisão minha e sim uma decisão judicial. Cada versão que aparece endossa a crença de alguém. Existem muitas versões para a mesma história.
Durante quase 10 anos, me senti a responsável por muitas mulheres. Conheci uma infinidade de histórias, de cura, de perda, de nascimentos, de luta, de violência, de alegrias, de preconceito. Aprendi muito. Mudei muito. Escrevi um livro para contar algumas daquelas histórias. Sem paraíso e sem maçã foi lançado no mesmo mês em que o grupo foi arquivado. Até aquele momento, eu não havia passado um dia, nem um dia, sem acessá-lo.
Procurei incluir mais pessoas, abri-lo para a diversidade, dar espaço para o diálogo. Falar de temas difíceis. Discutir o que dizem que não se discute. Senti toda a influência dos algoritmos, das fake news. Adoeci.
Em 2015, fechei meu escritório de arquitetura. Fiz uma escolha e muitas renúncias. Não é fácil desistir da sua profissão. Em 2016, tive minha primeira crise depressiva. Até hoje faço acompanhamento psiquiátrico e tomo antidepressivo.
Em 2019, descobri um câncer de mama, operei, fiz radioterapia. Sigo como paciente oncológica. Sem dramas. Foi só mais um capítulo da minha história.
O bem que aquele grupo nos fez nunca se perderá. O mal serve de aprendizado, sem dificuldades ninguém evolui.
Me tornei dependente, viciada, e agora passo por um processo de desintoxicação. Isolamento e redes sociais somados têm um poder destruidor. Mesmo medicada, tive dias bem difíceis, com crises depressivas.
Arquivei o grupo num impulso. Impulso de quem vê que precisa se proteger, e proteger as amigas, e nos proteger umas das outras, que loucura! Grupos de mulheres precisam ser ambientes seguros e acolhedores, apesar de não sermos obrigadas a concordar com tudo que é publicado ou comentado. É preciso haver respeito e ética e isso estava se perdendo lá. Eu estava me perdendo. Perdendo a capacidade de liderar.
Quando fechei o grupo, muita gente me disse que eu estava entregando para a concorrência. E eu disse, tudo bem, eu nunca quis concorrer com ninguém.
“Alguém pode se destacar e tomar seu lugar.” Eu disse, tudo bem, que muitas se destaquem e dividam o ônus e o bônus comigo. O céu é bonito porque tem muitas estrelas.