Tenho acompanhado os diversos manifestos pelo retorno às aulas. Manifestos feitos por especialistas de grandes hospitais, por pediatras, por pessoas que estão pensando nos melhores protocolos para o retorno. Mas não vi, ainda, nenhum manifesto que aborde a realidade da escola pública. O manifesto mais abrangente que vi foi o que a Lígia Jalantonio postou no @ocupababy outro dia. Nesse, ela fala sobre as questões que envolvem as escolas públicas:
“Os manifestos que temos visto não têm levado em conta a precariedade das escolas públicas no Brasil e, como sociedade, precisamos assumir um compromisso com o ensino público, mesmo que nossos filhos estejam matriculados em escolas privadas. A desigualdade começa na falta de acesso à educação. Em vez de fazer um manifesto pedindo pela reabertura das escolas nessas condições de precariedade, a gente devia estar fazendo manifesto para que o governo atenda de fato às demandas das crianças nas escolas. Que atenda de fato às demandas das professoras nas escolas. A gente precisa que as escolas sejam um ambiente seguro para receber nossas crianças. E nós, como sociedade, precisamos assumir o compromisso de não se expor desnecessariamente ao vírus para que as escolas possam voltar a funcionar”.
Os países que têm lidado melhor com a pandemia, antes de reabrir bares, shoppings e tudo mais, reabriram as escolas, dando prioridade para que as escolas infantis tivesses condições de receber seus alunos com segurança. A escola é a primeira a reabrir e a última a fechar nesses países. Existe toque de recolher e muitas outras restrições para que isso aconteça. Quando o número de casos volta a subir, como está acontecendo agora na Europa, fecham tudo, mas mantêm as escolas abertas.
E mandar os filhos ou não para as escolas não é decisão dos pais, quando as escolas estão abertas os pais têm obrigação de mandar os filhos podendo até ser presos caso não o façam. Porque educação é um direito da criança e não uma escolha dos pais. Parece radical, mas precisamos pensar sobre isso.
Nesses últimos oito meses, muitas escolas privadas encerraram suas atividades e profissionais da educação infantil, mulheres em sua maioria, ficaram sem emprego. Enquanto isso seguimos sendo incoerentes. Lotando as lojas na Black Friday. Fazendo confraternizações de fim de ano. Lotando os bares. Os pais pegando transporte público lotado para ir para o trabalho. As crianças brincando nas ruas. As crianças estão sendo vítimas de violência. As crianças estão sendo vítimas de abuso sexual. Crianças passando fome.
A culpa pelo aumento dos casos de COVID-19 não é das escolas, é nossa! Escola é serviço essencial! O pediatra Daniel Becker tem falado sobre isso também: “As autoridades municipais e estaduais precisam preparar as escolas públicas para que se tornem seguras, como são as escolas particulares”.
O descaso com a educação no Brasil é antigo, sempre viramos as costas para o problema, como se ele não fosse nosso, porque nossos filhos têm acesso à escola particular. A falta de investimentos na educação é uma tragédia para todos nós. Tragédia que se agrava com as escolas fechadas. Tragédia que compromete o futuro do país prejudicando o desenvolvimento das crianças, aumentando a evasão escolar.
Precisamos tirar as crianças da invisibilidade! Torná-las prioridade! A escola pública é de todos nós e devemos cuidar dela, mesmo quando não somos usuários dela.
#oamoréoquenosune