Escolas fechadas há quase um ano. Passa o tempo, reabre tudo, até campeonato de futebol volta. Mas escolas não voltam.
Os adultos vão ao bar, fazem festas. As famílias se reúnem no Natal. A curva sobe. Os hospitais lotam. Desacreditam a vacina. Vacina chega para poucos. Num ritmo lento. Muito lento para quem vê os seus morrendo asfixiados. Não posso respirar.
Vai lá comemorar que seu time ganhou. As máscaras caem. E as crianças em casa pegando COVID-19 dos adultos. Sem máscara e sem controle. Pão e circo sempre funcionam. E a escola fechada.
O número de mortos só subindo. A população anestesiada. E a gente só faz reclamar na internet.
Educação é essencial.
Escola é serviço essencial em qualquer sociedade que pensa nas próximas gerações. Professor é essencial. Assim como os profissionais da saúde e demais grupos prioritários, todas as pessoas que trabalham em escolas deveriam ter prioridade para receber a vacina.
Uma escola abre, uma mãe julga a outra. Se decidiu mandar o filho para a escola é porque acha que escola é depósito de criança. Se decidiu não mandar e continuar on-line é porque não está pensando na saúde mental do filho. As pessoas são diferentes, as famílias têm necessidades diferentes. Nem todo mundo tem escolha.
Desde o início da pandemia, profissionais da saúde e de outros serviços essenciais estão se expondo ao vírus. Estão esgotados, mas a vida não pode esperar. E os filhos desses profissionais? Onde estão? Eles existem.
A educação não pode esperar!
O importante é ser coerente. Para a criança ir para a escola, a família precisa manter o isolamento social. Sem bar, sem estádio, sem festa.
Estamos num momento de aumento de internações, hospitais lotados, o caos em muitas cidades. Fecha escola e mantém o resto aberto. Estratégia hipócrita. Valores invertidos.
A infância continua sendo negligenciada pelo poder público. Os próprios sindicatos se colocam como atividade não essencial quando deveriam dizer o oposto, e pressionar pela vacina dos profissionais da educação.
Difícil viver esperando a vacina enquanto nos ofertam Ivermectina. Todo dia tem criança na rua, tem criança sofrendo abuso dentro de casa. Todo dia tem mãe solo deixando filho em creche clandestina. Mãe precisa sair de casa para trabalhar pelo sustento da família.
E enquanto as escolas seguem fechadas, tem maternidade que nunca abriu sendo destruída. A Prefeitura de Belo Horizonte quebrou seis banheiras instaladas na Maternidade Leonina Leonor, em Venda Nova. Idealizada em 2007, com sete suítes privativas de parto, seis delas equipadas com banheiras para alívio da dor, diversas enfermarias, UTI neonatal e capacidade para atender de 300 a 500 partos por mês, a depender dos recursos humanos empenhados. Tudo isso pelo SUS, poupando vidas, promovendo saúde e impactando positivamente na vida das mulheres, das crianças e da comunidade.
Basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados, já dizia Simone de Beauvoir. E se mãe não tem direito, filho também fica sem.
Sem direito de ir para à escola. Sem direito de nascer com respeito. Mãe não tem direito nem a um parto humanizado. Escola fechada. Maternidade pública fechada. Comemora assistindo ao seu futebol.
Neste circo somos palhaços. Seguimos a vida que não sabemos viver. Esperando a morte que um dia chega. Morri, mas passo bem. Respira e vai. Que a vacina chegue logo. Que a infância seja prioridade. Que sejamos aliadas nessa luta que é nossa.
Hoje tem circo. Tem o pão que o diabo amassou. Amanhã é outro dia!