Não me chame de guerreira. Eu não quero guerra com ninguém. Eu quero paz. De espírito, principalmente. Quero poder não querer nada e querer tudo ao mesmo tempo. Quero poder ser forte para demonstrar minhas fraquezas. Quero não “ter que” nada.
Crescemos ouvindo que temos que ser independentes: não dependa de marido, tenha seu dinheiro! Aprenda a se virar! Saiba cozinhar! Organize a casa! Lave suas roupas! Cuide dos seus filhos. Mulher tem que...
Aprendemos que temos que dar suporte aos homens, validar suas atitudes, nos responsabilizar pelo trabalho doméstico, pelo cuidado com os filhos. Mulher tem que dar conta da sobrecarga. Tem que dar conta do trabalho que ninguém vê, ou só vê quando deixa de ser feito.
Mulher é rotulada por tudo. Não quis se casar, é mal-amada. Não quis ter filhos, é incompleta. O casamento acabou, é fracassada. Tem filhos e trabalha fora, é menos mãe. Tem filhos e deixa o emprego para cuidar deles, é perdedora. Não está sempre depilada, maquiada e bem-vestida, é desleixada.
Homens não crescem ouvindo que não podem depender do trabalho da esposa, que devem lavar suas cuecas, cuidar dos filhos e da casa. Esse trabalho estará lá, disponível. Ele só precisa saber ganhar dinheiro, ter sucesso profissional para pagar pelo trabalho que não quer fazer. Homem é bom demais para determinadas tarefas.
Com as mulheres é diferente! Estude, se forme, tenha uma profissão, ganhe seu dinheiro para não depender de marido. Case-se. Tenha filhos. Cuidado para não perder seu marido. Homem que não tem sexo em casa, procura na rua. Homem pode pagar por tudo, até por sexo.
Ah, o sexo! Duas, três jornadas de trabalho, desgaste físico e emocional, puerpério. Amamentação, noites mal -dormidas. E ainda tem que pensar em sexo. Se vira, minha filha, que homem precisa de sexo. E, por favor, cuide do seu corpo, ache tempo para malhar, fazer as unhas, hidratar o cabelo, se depilar. Você tem que se manter desejável, mesmo que tenha perdido o desejo. A masculinidade deles depende desse conjunto de fatores.
Enquanto eles estão pagando as contas com o dinheiro que eles ganham trabalhando, nós as pagamos com nosso tempo, nossa disponibilidade, nossa carreira, nossos sonhos e desejos. Mulher paga com autonomia. Abdicando da sua vida para cuidar da família e dar suporte ao marido.
Mulher nasceu para ser esposa e cumprir o papel que a sociedade patriarcal exige. Trabalho de cuidado e acolhimento da família. Sempre com medo de ser trocada por outra, mais jovem, mais bonita, mais sexy.
E se o casamento acaba, certamente ela não soube ser uma boa esposa, a culpa nunca é dele. E, geralmente, é ele quem sai de casa e quer viver uma vida de solteiro, sendo pai de fim de semana, postando foto de pai do ano nas mídias sociais, mesmo atrasando o pagamento da pensão. Mesmo ficando com o filho por meia hora e depois o levando para casa da avó (a mãe dele), para que ela cuide da criança enquanto ele vai dar um rolê.
“Atrás de um grande homem sempre há uma grande mulher” ou um exército de mulheres limpando, lavando, cozinhando, cuidando e fazendo de tudo para possibilitar que o “grande homem” conquiste tudo que ele almeja. Atrás de um grande homem tem sempre uma mulher sobrecarregada.