Jornal Estado de Minas

PADECENDO

Swing das meias

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Quem nunca perdeu um pé de meia? As meias não são criaturas monogâmicas. Elas não são como as araras, os cisnes ou os pinguins-imperadores, que escolhem seu par e com eles ficam até a morte. No swing das meias, elas não aceitam passar a vida com seus pares originais.





Meias nascem acreditando no “feitos um para o outro”, embaladas com seu par perfeito. Seguem juntas até seu novo lar. Passeiam juntas, se esquentam no inverno, se enroscam. Passeiam juntas, caminham lado a lado. Dançam na balada.

Tudo é perfeito no relacionamento delas até conhecerem a máquina de lavar roupas. A máquina de lavar é a casa de swing das meias. Ali dentro elas se misturam, chacoalham, experimentam novas posições, se relacionam com outros pares, fazem troca de casal.
 
Quando saem do enxágue e entram na centrifugação, não querem mais voltar para o seu par original! Algumas aproveitam esse momento, entram em um portal para outra dimensão que surge quando a máquina gira muito rápido. Fogem com seus novos parceiros, abandonando o par original. Desaparecem para sempre.





Certeza de que você já ouviu alguém dizendo: "Eu tô 'meia' louca!". Pois é, é essa meia aí! Fazendo sexo na lavanderia, enlouquecida com a chacoalhada da máquina de lavar.

Os pares abandonados saem da máquina desnorteados e necessitando de anos de terapia. Ficam assim, avulsos, largados e sem uso, precisam aprender a lidar com a solidão, ou convencer outra meia, que está na mesma situação, de que podem se misturar e encontrar a felicidade de outro jeito.  Dando-se uma segunda chance de serem felizes, até a próxima lavagem.

Nenhuma meia encontra seu par pensando em se separar dele, mas a lava-roupas dá muitas voltas e nesse embalo tudo pode mudar.

Algumas meias permanecem monogâmicas, essas são lavadas a mão, com todo cuidado. Secam lado a lado no varal. Ficam guardadas enroladinhas e aconchegadas na gaveta até o próximo uso. Envelhecem juntas. Ganham uns furinhos, registro do tempo. São costuradas e, quando não servem mais nos pés, são doadas e viram cobertores. Costuradas juntinhas, aquecendo alguém no inverno.

audima