Jornal Estado de Minas

PADECENDO

Me deixa ser fora do padrão

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Me deixa envelhecer em paz.
Me deixa ser velha. Deixa minhas rugas. Aceite meu cabelo grisalho.
Me deixa ter lábios finos. Me deixa ter cílios curtos. Me deixa ter manchas na pele.




Deixa minha celulite em paz.
Me deixa ter pelos. Mulher adulta tem pelos. 
Eu sou adulta.

Me deixa ter cabelo comprido depois dos 50. 
Me deixa usar decote, biquíni, short, 
a roupa que eu quiser.
Me deixa ter cabelo curtinho, natural, tingido, colorido. O cabelo é meu.
Me deixa ser fora do padrão.
Me deixa exibir minhas cicatrizes. Me deixe com meu nariz grande. Me deixe com meu nariz largo. Me deixe com meu nariz anduco.
Deixa minha gordura localizada em paz.
Investi muito para conseguir essa barriguinha. Quando ela estava enorme, carregando um bebê, você achava lindo! A pele se esticou toda para ele caber lá dentro. Agora que ele nasceu não queira padronizar minha barriga.




Me deixa ser feia. Me deixe ser gorda. 
Me deixa ser magra.
Me deixa ser eu.
Me deixa ser fora do padrão.
Quando eu passo pelo Instagram e vejo aquele monte de foto produzida. A mulherada linda, maquiada, com cabelo de quem acabou de sair do salão eu penso: a vida real não tem filtro, não tem Photoshop. O espelho é implacável, e o olhar das pessoas ao vivo, também é.
A real é aquela que eu vejo no espelho todo dia.
Me deixa ser de verdade. Não quero parecer uma boneca. Sou mulher. De carne. De osso. De coração.
Eu não quero ser igual a ninguém.
Deixa meu rosto ser harmoniosamente desarmônico.
Me deixa postar foto sem filtro. Me deixa postar foto sem maquiagem. É assim que eu quero me lembrar de mim daqui a uns anos. Na minha melhor versão, a real.
Deixa minhas unhas sem esmalte. 
Me deixa assim, ao natural.
Me deixa ser livre.
Me deixa ser míope. Me deixe com minha vista cansada esticando os braços para ler melhor. Deixa meus óculos. Aceita minha visão deficiente.
Deixa meu peito ser pequeno demais, grande demais, caído demais.
Deixa minha pele ser flácida.
Me deixa em paz.
Me deixa viver fora da caixa.
Me deixa ser gente.
Me deixa ser fora de um padrão que não é meu.
Me deixa ser eu.

Depositphotos




audima