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A morte

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O menino reclamou de dor na barriga.
Diagnostiquei a ansiedade.
Estava com dificuldade para pegar no sono.
Mais uma vez tive que lidar com o medo da morte.
Explicar que todo mundo morre.




Que morrer não dói, que é só uma passagem.

Para ele entender, contei sobre quando ele nasceu:
Você estava quentinho dentro da minha barriga.
Dentro de um líquido.
No escurinho gostoso.
O dia chegou e você precisou sair.
Passar por um canal.
Chegar do lado de fora, no seco.
Você não sabia o que tinha do outro lado, o que te esperava.

Não foi ruim.
Eu e seu pai te esperávamos.
Nós também estávamos com medo, nós não te conhecíamos.
Esperávamos por você sem saber como você era.




E ficamos felizes.
Você foi para o meu colo e ficou tudo bem.
Não dava para ficar mais tempo na minha barriga.
Chegou a sua hora.

Assim também é a vida.
Não dá para ficar aqui eternamente,
nossa hora chega e a gente tem que passar.
Cada um tem seu tempo, sua hora.
A hora chega, a gente passa.

Quem fica sente saudade, sofre.
Mas um dia passa também.
E reencontra quem partiu antes.
O que tem do outro lado eu não sei te dizer,
mas não pode ser ruim.
Isso se chama fé.

Essa história faz parte do meu livro “Sem paraíso e sem maçã” (o e-book faz parte do Kindle Unlimited). Sempre gosto de lembrar dessa conversa que tive com meu filho quando passamos por um luto coletivo.

Um luto como esse que estamos passando agora com a morte da Marília Mendonça. Quando uma mãe morre, todas as mães entram em contato com sua finitude. Com o medo de partir e deixar os filhos.

Gosto de pensar que sempre estarei presente, mesmo depois de partir. Em cada célula do meu filho tem um pedaço de mim. E o amor que sinto por ele sempre estará com ele. Mãe não deveria partir tão cedo, mas tudo tem seu tempo, sua hora.


Descanse em paz, Marília






audima