Gui é o mais velho de três irmãos, mas ele é o único filho que nasceu só do coração, mas que veio de outra barriga. Ele foi adotado e, por isso, a cor da sua pele é diferente. Ele só tem 9 anos, e certamente já ouviu coisas fora de casa que o levaram a este questionamento: “Se eu fosse branco, você e toda a minha família iam me amar mais?”.
Essa dúvida veio de fora, de coisas que ele deve ter passado a vida escutando dos outros, de pessoas como eu e como você. Digo como eu porque, como todo brasileiro, eu aprendi, desde de criança, a ser racista. Embora a gente adore fingir que não.
Foi bem difícil encarar essa verdade, mas ela só começou a mudar quando eu consegui me encarar e me dizer: você é racista, você precisa aceitar para conseguir mudar. Para corrigir um erro, é preciso aceitar que ele existe.
Foi bem difícil encarar essa verdade, mas ela só começou a mudar quando eu consegui me encarar e me dizer: você é racista, você precisa aceitar para conseguir mudar. Para corrigir um erro, é preciso aceitar que ele existe.
O processo é demorado, exige muita reflexão. Hoje eu consigo ser antirracista. Hoje eu sei que consegui quebrar essa corrente, que vem de muitas gerações, e não passar o racismo para o meu filho.
Imagine seu filho, sua filha se relacionando, se casando com uma pessoa preta. Como você se sente? Imagine um netinho pretinho. Como você se sente? Se isso incomoda, deixa você desconfortável, se você não gosta ou não quer imaginar, amore, você é racista.
Imagine-se tendo um relacionamento com uma pessoa negra, saindo com essa pessoa em lugares públicos, percebendo os olhares. Imagine o que sua família iria dizer.
São situações cotidianas simples, que escancaram nosso racismo. Mesmo que ele seja contido, que você trate com respeito e educação as pessoas negras que convivem com você, que provavelmente devem ser o porteiro do prédio, a empregada doméstica, o manobrista.
Tratar essas pessoas com respeito é o mínimo. A questão é: você aceita que essas mesmas pessoas ocupem posições de poder?. Cargos políticos, cargos de diretoria em empresas etc. Se você não lida bem com isso, você é racista.
Tratar essas pessoas com respeito é o mínimo. A questão é: você aceita que essas mesmas pessoas ocupem posições de poder?. Cargos políticos, cargos de diretoria em empresas etc. Se você não lida bem com isso, você é racista.
Você vai conseguir ler este texto até o final e refletir sobre o que eu estou tentando explicar?
Quando chegar o Dia da Consciência Negra, vou precisar desenhar pela milésima vez por que não tem dia da consciência humana e por que não existe racismo reverso?
Algum dia uma criança branca já perguntou para os pais se ela ia ser mais amada se fosse preta? Nunca! Porque não existe racismo reverso.
Quando o Gustavo me enviou a cartinha do filho dele e eu li “se eu fosse branco, você e toda a minha família iam me amar mais?”, eu chorei. E quando eu reli, chorei outra vez. E quando eu escrevi aqui, eu chorei de novo! É muito injusto uma criança sentir isso.
Também é muito injusto um pai se sentir culpado por isso:
“Meu filho me perguntou se eu o amaria mais se ele fosse branco... Foda demais ler isso! Me culpei por não conseguir mostrar a ele que nosso amor nos basta, por não o proteger, por não deixar uma criança de 9 anos forte o suficiente pra encarar o racismo.
Até quando continuaremos aniquilando crianças negras?
O racismo machuca a alma. Reduz o indivíduo. É covarde e cruel.
Você já conversou sobre racismo com seus filhos? Alguma vez se preocupou em orientá-los?
Não perca mais tempo: aproveite o domingão pra deixar pro mundo uma geração melhor que a nossa.
Não perca mais tempo: aproveite o domingão pra deixar pro mundo uma geração melhor que a nossa.
Que fique claro que isso não é mimimi e muito menos insegurança normal de uma criança de 9 anos.”
Gustavo Bregunci
Fingir que racismo não existe, falar que “somos todos humanos” não vai mudar a situação. A gente só muda quando deixa sair. Tem que deixar doer, tem que incomodar. Hoje, a dor do Gui também dói em mim, e quando essa dor dói aqui, eu me sinto humana.
Quando a dor do Gustavo também se torna a minha dor, e a dor de outros pais, e a gente fala disso, a gente sabe que está no caminho certo! Da dor vem a cura. Deixa doer.
Quando a dor do Gustavo também se torna a minha dor, e a dor de outros pais, e a gente fala disso, a gente sabe que está no caminho certo! Da dor vem a cura. Deixa doer.
“Se eu fosse branco, você e toda a minha família iam me amar mais?”