Tudo normal. Aquela correria de sempre na vida de uma mãe. De repente uma ausência...
Minha mente se perdeu.
Como em um sonho, quando você flutua e não sabe exatamente onde está. No meio de uma névoa.
Sem conseguir raciocinar. Aquele estágio do sono onde você sonha algo estranho, tenta acordar, mas não consegue.
Fiz o almoço. Me arrumei para buscar o Felipe no colégio. Fui até a cozinha, como de costume, conferir se não havia deixado nenhuma chama acesa. Desliguei o forno e saí.
Quando voltei, a casa tinha cheiro de comida queimada. Meu marido havia chegado antes e desligado a chama da panela de legumes que eu esqueci acesa.
Não era a dificuldade de concentração habitual. A falta de foco por pensar em coisas demais ao mesmo tempo. Era um vazio estranho.
Normalmente, meu cérebro “parece uma janela de Google Chrome de adolescente: 52 abas abertas, 15 delas não respondem, 4 estão tocando músicas diferentes. E de onde diabos tá vindo esse jingle?". Como descreveu o filho de uma amiga. De uma hora para outra todas as janelas se fecharam. Ficou o vazio.
Olhava para dentro de mim e não via nada, só névoa.
Sensação de estar tentando voltar de uma anestesia geral, sem conseguir.
Sentei para ler e não entendi nada do que li. Ou pior, entendi errado, não soube interpretar um texto simples.
Tive medo.
Medo de não conseguir fazer as coisas. De não entender o que está acontecendo. Medo daquela confusão mental. Da perda de memória, da desorientação.
Quando tive câncer, não tive pânico. Pensei: essa coisa não me pertence, fui lá, operei, sigo o tratamento para a coisa não voltar. Mas meu cérebro, ah, não! Meu cérebro não!
Mais alguns dias me sentindo daquele jeito, mas era fim de semana, foi mais fácil. Depois me lembrei de que um dos remédios que eu tomo, que é justamente o que ajuda no foco, tinha acabado e a falta dele poderia ser a causa da pane mental.
Mandei mensagem para o meu psiquiatra e ele me enviou uma nova receita.
Fui colocando a cabeça no lugar e buscando respostas. Foi então que descobri o tal do nevoeiro mental da menopausa. Um dos sintomas menos conhecidos. A impressão é de que estamos com Alzheimer.
A listinha dos sintomas da menopausa que eu tenho só cresce:
Ondas de calor
Problemas de sono
Dor nas articulações
Perda de massa muscular
Mudanças de humor
Ansiedade
Depressão
Queda do estrogênio, que afeta a atividade no hipocampo.
Todos esses fatores afetam a memória e levam a esse nevoeiro mental.
O importante, não é Alzheimer, gente! É normal! E tem tratamento! Para algumas mulheres, a reposição hormonal pode ser um caminho; no meu caso não, porque tive câncer receptor hormonal. O remédio prescrito pelo meu psiquiatra (Luís Augusto Malta, em Belo Horizonte) está me ajudando demais.
Esses sintomas podem começar muito antes da menopausa, ou seja, na pré-menopausa. Não se assuste com eles, procure tratamento, com ginecologista ou mesmo com psiquiatra!
As mudanças do corpo eu aceitei melhor, mas olha, não mexe com meu cérebro! Isso vai além do meu limite! Saber que não estou sozinha nessa foi muito importante. Obrigada às amigas padecentes que compartilharam suas histórias de nevoeiro mental comigo.