Jornal Estado de Minas

PADECENDO

Coração de mãe

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Coração de mãe sabe das coisas. Você cresceu e não faz nenhuma diferença se você andou com 11 ou 13 meses. Se você aprendeu a escreveu seu nome com 4 ou com 6 anos. Se aprendeu a ler com 5 ou com 7 anos.




 
Me lembro da pediatra me dizendo para eu começar a te dar fórmula na mamadeira quando você fez 6 meses, mesmo com a amamentação sendo um sucesso e você ganhando muito peso.

Uns meses depois você estava acordando muito à noite, eu estava exausta e segui o conselho da mesma médica, usar o “Nana, nenê”. Aquilo era o oposto do que eu queria fazer, mas eu apenas obedeci sem questionar.
 
Eu me sentia tão frágil, tão sozinha, tão sem apoio. Ouvia e seguia o que os outros diziam. Não ouvia o meu coração. Você não precisava de mamadeira, e eu podia sim, dormir com você, seria melhor para nós dois.

Mas eu fui com as outras. Era difícil raciocinar ou questionar quem “sabia mais que eu”. Na sala da pediatra era sempre só nós três, você, ela e eu.
 
Quando resolvemos te tirar da escolinha pequena e levar para uma escola maior, aquela coordenadora me disse que seu desenho estava aquém dos desenhos das crianças da sua idade. Que você teria que repetir o “infantil 3”, não só pela data de corte que havia mudado, mas porque você não conseguiria acompanhar a outra turma.



Mais uma vez éramos três, você, ela e eu. Eu não tive escolha. Até contratei advogado para tentar uma liminar para você não precisar repetir, mas aquela conversa me fez desistir de brigar.
 
As pessoas falavam em maternidade como se fosse tudo uma receita de bolo. Eu sentia que estava errando a receita. Nunca fui boa para seguir fórmulas. Só entendi que aquelas fórmulas estavam todas erradas quando tive outras mães para compartilhar experiências comigo.

Eu e muitas outras estávamos padecendo no paraíso. E quando pudemos compartilhar nossas alegrias e nossas dores, dividir aquele peso, as coisas foram ficando mais fáceis.
 
A fórmula que a pediatra recomendou te fez mal, coisa que meu leite não fazia. Você teve otite de repetição e ficou tomando antibiótico a cada dois meses até que eu vi que o problema estava dentro daquela mamadeira. A alergia à proteína do leite que me deixava toda entupida fazia o mesmo em você, só que no seu caso o excesso de muco ia para os ouvidos. Cortei a fórmula e você nunca mais teve otite.
 
Tudo o que nós sofremos empregando o método do livro “Nana, Nenê” ficou para trás quando entendi que estava tudo bem eu deitar na sua cama quando você me chamava de madrugada. Dormir abraçadinha com você, quando você precisou de mim, não te deixou mais dependente nem mais frágil. Isso também não prejudicou o casamento.




 
Eu queria muito que aquela coordenadora que falou dos seus desenhos visse o que você desenha agora. O melhor desenhista da turma. Já ilustrou até livro infantil. Eu e seu pai confiamos que você era capaz, demos espaço para você ser quem você é. Te tirei do horário integral na escola porque vi que precisávamos passar mais tempo juntos.
 
Meu trabalho deixou de fazer sentido depois que me tornei mãe. A maternidade me transformou. E também me deixou mais dependente do seu pai. Não conta para ninguém, mas esse é um erro que muitas mães cometem, a gente não deve abrir mão da nossa independência financeira, nem todo casamento dura para sempre. Ainda bem que seu pai é um cara que também vem aprendendo muito com a paternidade.
 
Hoje você é um adolescente, já viaja sem mim. Já não precisa que eu leia para você dormir. Não me chama à noite. Me acha “cringe”. Mas sabe que pode contar comigo quando o bicho pega porque criamos vínculos. Eu vou ser sempre chata, porque vou sempre cobrar e ensinar. Papel de chata é parte do papel de mãe.
 
Não sei o que seria de mim se, naquele mês de março de 2011 eu não tivesse resolvido criar um grupo de mães no Facebook. Mãe precisa ouvir médicos, precisa valorizar a ciência, mas também precisa se lembrar de que toda mulher é um pouco bruxa.

Que temos um sexto sentido e uma conexão com nossos filhos que ninguém mais tem. Muitas vezes precisamos tampar os ouvidos para ouvir o que diz o nosso coração.