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Precisei de dois anos para entender o que aconteceu comigo em 2020. Eu estava vivendo um relacionamento abusivo, tóxico. Não em casa, mas nas mídias sociais.
 
No ano anterior, 2019, descobri um câncer de mama e  iniciei o tratamento sem nenhum sofrimento. Fiz quadrantectomia, depois de radioterapia, e, após  iniciar o bloqueio hormonal, veio a depressão. Quando estamos no olho do furacão, ficamos um pouco anestesiados. Depois vem o estresse pós-traumático. 




 
Meu psiquiatra me receitou medicamentos que já havia usado em outra época e melhorei.
Em 2020, veio a pandemia, o isolamento social,  a sobrecarga materna.  O medo.  As discussões improdutivas. Cloroquina, ivermectina, tratamento precoce,  e nada de vacina.  Nessa briga de torcidas, todos fomos prejudicados.
 
Esgotada com tantas brigas e  tantas discussões improdutivas, especialmente dentro do grupo de mães que eu criei. O Padecendo no Paraíso deveria ser um espaço saudável, de acolhimento, mas se tornou um ambiente extremamente tóxico onde, todo o tempo, eu tinha que ficar atenta moderando brigas.
 
Um dia, enquanto meu filho estava assistindo à aula on-line, eu desabei.  Me deitei no sofá e não conseguia parar de chorar. Estava perdendo minhas forças,  perdendo minha vontade de viver.  Aquela dor era tão grande que eu mal podia respirar. 




 
E foi lá no grupo mesmo que eu pedi um socorro discreto. Recebi o telefonema de uma amiga,  depois de já ter ligado para o CVV.  Foi ouvindo a voz da Bruna que consegui me acalmar e pensar no que fazer.
 
Eu precisava acabar com o que estava me matando.  Arquivei o grupo que tinha 10 mil mães participando. Naquele momento, a decisão era definitiva.  Eu gostava muito daquelas pessoas para deixar que elas me magoassem,  e se magoassem. Eu gostava daquelas que tinham uma opinião bem diferente da minha,  elas me faziam olhar as coisas por um outro ângulo. Mas uma coisa é ter outra perspectiva, outra coisa é aceitar as ofensas. Mesmo quando não era direcionada a mim, me machucava.
 
O arquivamento do grupo foi notícia, recebi telefonemas de veículos de imprensa de Belo Horizonte querendo saber o motivo. Preferi não ficar falando. Tinha chegado ao meu limite. Foi política? Não, foi intolerância. O arquivamento foi a melhor decisão que já tomei em relação ao grupo. Arquivei e excluí todos os membros. Uma decisão extrema, bloqueei quem estava destruindo minha saúde mental.
 
Como é difícil sair de um relacionamento tóxico, a gente sempre fica com aquela esperança de que vai melhorar, que as coisas vão mudar. Se foi assim para mim, num ambiente virtual, imagina o que é para uma mulher viver isso em casa?
 
Alguns meses depois, já me sentindo melhor, reativei o grupo atendendo aos pedidos de mães que se sentiam órfãs no meio da pandemia. O grupo agora é pequeno, menos de mil membros. Tamanho inversamente proporcional à minha paz.




 
Troquei a terapia pela análise em 2022, continuo medicada e não tive mais nenhuma crise forte de depressão. Há males que devemos cortar pela raiz. Há pessoas que podem ser ótimas, mas que não nos fazem bem, e tudo bem. Ninguém agrada a todo mundo.
 
Estamos no Setembro Amarelo (campanha de prevenção ao suicídio). O lema deste ano é “A vida é a melhor escolha!”.
 
Os ânimos estão exaltados, estamos às vésperas de uma eleição tensa. Vamos cuidar da nossa saúde mental. Ficar atentos aos sinais. Nos afastar do que nos faz mal. Cuidar de quem está perto da gente.  Nem sempre a pessoa que não está bem deixa transparecer a dor que está sentindo. A gente acha que vai superar sem ajuda, não quer preocupar a família. Vai segurando, até que uma hora explode. 
 
Busque ajuda! Na página https://www.setembroamarelo.com/ você  encontra várias informações, inclusive com psiquiatras associados.
 
É difícil mesmo, dói mesmo, essa dor é legítima, mas lembre-se de que existem muitos recursos para que a gente fique bem!

#oamoréoquenosune