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Estado de Minas padecendo

Família acima de tudo


04/06/2023 04:00
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Criança
(foto: Pixabay )


Como o ideal de família deixa as crianças em risco. 

Família deveria significar amor, afeto, escuta, proteção, respeito, carinho, conexão, cuidado, companheirismo, atenção. No entanto, em ambientes familiares, muitas vezes, vemos negligência, violência, incompreensão.

“Não vou denunciar porque isso acabaria com a família”, disse a mãe de uma adolescente estuprada pelo tio.

“Esquece isso! Ela nem vai lembrar”, disse o pai da menina de 4 anos para a mãe que queria denunciar o sogro pelo abuso da criança.

“Seu avô é o homem mais íntegro que eu já conheci, vocês jovens não têm limites, ficam andando de roupa curta em casa”, disse a avó da adolescente que a procurou para contar dos abusos do avô juiz.

“Mandamos ele morar na cidade do meu irmão, depois que abusou de um colega de classe. Não queremos que pensem que ele é um estuprador”, disse a irmã mais velha de um adolescente de 12 anos que estuprou um colega de classe.

“Ele se oferecia pra mim o tempo todo”, disse o padrasto da criança de 10 anos.

“Ele é homem, você é mulher, a carne é fraca e você pode acabar cedendo, por isso você precisa ir morar com os seus avós.” Disse a mãe para a filha adolescente, quando percebeu que o padrasto a estava assediando.

Esses relatos são comuns e buscam, segundo quem fala, a proteção de uma família. É essa mentalidade que torna a família o lugar mais perigoso em termos de violência sexual contra crianças e adolescentes. 

A estrutura patriarcal, machista, falocentrista, heteronormativa, classista, adultocêntrica e preconceituosa socializa as mulheres para serem capatazes do patriarcado, treinadas para a subalternidade. Essa crença de que o homem é superior é o que faz com que mulheres estejam sujeitas à violência doméstica e crianças e adolescentes estejam sujeitos ao abuso dentro do ambiente familiar. A mãe é, todo o tempo, vigiada para que ensine a seus filhos que eles devem cumprir os papéis na hierarquia social a que estão destinados de acordo com o seu sexo.

Conforme escreveu Cila Santos: “São as mães que têm a missão de preparar mulheres para serem mães e esposas. Que vão fiscalizar se você está se tornando “direita”, que vão reprimir qualquer coisa que esteja fora do que manda o manual patriarcal de comportamento feminino. Que vai repudiar qualquer coisa que não seja belo, recatado e do lar. (...) Essa mulher aprendeu isso, e ensinará isso. A misoginia que ela internaliza nos seus é a mesma que aprendeu das suas ancestrais. (...) “Fecha essas pernas, menina!” nossas mães disseram. Porque o mundo devora mulheres. Porque elas não puderam nos proteger. Não puderam proteger a si mesmas.”

Esse ideal de família que serve o patriarca, que valoriza mais os homens do que as mulheres, deixa as crianças desprotegidas, em risco. O medo de enfrentar o abusador e de destruir a família também é uma forma de violência. Isso faz com que a vítima de um abuso seja responsabilizada pelo crime cometido contra ela.

A família que não protege é uma família falida, uma família de faz de conta, que finge que está tudo perfeito enquanto tudo desmorona. Proteger um estuprador porque ele é parte da família faz com que o sujeito também seja responsável pelos danos psicológicos sofridos pelas vítimas do abusador. Quando uma pessoa adulta fica sabendo de uma violência contra uma criança ou adolescente e não faz nada para não destruir a família, ela está colocando outros membros da família em risco e dilacerando a vítima.

A instituição família precisa ser revisada. Essa fórmula machista e castradora vem adoecendo pessoas há décadas, há séculos. Essa instituição família não pode estar acima da saúde física e mental das pessoas. Família é amor e quem ama protege!

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